Folha de S. Paulo


Para ídolos santistas, pontos corridos faria time de Pelé ainda mais imbatível

O Santos da era Pelé, isto é, de 1956 a 1974, foi campeão de 26 campeonatos oficiais, dominou o futebol brasileiro por quase duas décadas e encantou todos os continentes excursionando. Mas, para alguns dos representantes daquela equipe, os feitos poderiam ter sido maiores se uma mudança debatida hoje também tivesse sido colocada em prática há 50 anos.

"As pessoas debatem o que é melhor: campeonato por pontos corridos ou com fórmula mista, com mata-mata. A melhor é a fórmula é por pontos corridos. O Santos foi dez vezes campeão do Paulista com essa fórmula. Se os outros torneios fossem nesse sistema, não tenha dúvida que o Santos de Pelé teria atropelado ainda mais", avalia Lima.

Coringa na equipe alvinegra, tendo jogado como lateral direito, zagueiro e volante, Lima é a favor da manutenção dos pontos corridos no Campeonato Brasileiro, embora o debate hoje penda mais para a volta do mata-mata, abandonado em 2002 –11 dos 20 clubes da Série A admitiram à Folha que querem a mudança.

Lima é radical contra a mudança. Avalia que será um prejuízo ao futebol brasileiro.

"Pontos corridos premia o melhor e isso é óbvio, não é? Mata-mata pode ser um atrativo para o público, mas os torcedores têm de lembrar que para o time que perde a empolgação vai durar só dois jogos, a ida e a volta. Como ficará depois?", completa Lima.

O Santos de Pelé foi campeão de dez estaduais, tetracampeão do Torneio Rio-São Paulo, hexacampeão nacional, bicampeão da Copa Libertadores e bicampeão do Mundial Interclubes, além de uma Supercopa Intercontinental e da Recopa Intercontinental –esses últimos quatro jogados no sistema mata-mata.

Dos dez estaduais vencidos pelo Santos, o de 1967 teve uma final, mas foi porque Santos e São Paulo terminaram empatados em pontos ao final de dois turnos –ambos somavam 41 pontos e por isso foi feito um jogo desempate, vencido por 2 a 1 pelos santistas.

Em 1969, o título foi decidido em quadrangular entre Santos, Palmeiras (vice), São Paulo (terceiro colocado) e Corinthians. Já em 1973 houve uma final entre Santos, o campeão do primeiro turno, contra a Portuguesa, campeã do segundo turno –a taça foi dividida após erro da arbitragem na contagem dos pênaltis na decisão.

Os quatro títulos do Torneio Rio-São Paulo também foram por pontos corridos, mas em turno único. Em 1959 e 1963, o Santos venceu sem dificuldade. Em 1964, dividiu a taça com o Botafogo por falta de datas para as partidas desempate. Em 1966, também por falta de datas, dividiu a taça com Corinthians, Botafogo e Vasco.

Os hexacampeonato nacional –cinco Taças Brasil e um Torneio Roberto Gomes Pedrosa– já foi com sistemas diferentes. Na primeira, o time disputava a taça no formato de mata-mata e para jogar o torneio tinha de ser campeão estadual (em alguns casos vice). 

O Santos sagrou-se campeão das Taças Brasil de 1961, 1962, 1963, 1964 e 1965, com a diferença que  estreou nas semifinais em quatro das cinco edições que ganhou (a exceção foi 1964).

Já o Robertão teve formato diferente. A primeira fase era dividida em dois grupos (com jogos de ida e volta) e o título era disputado pelos dois melhores de cada grupo, em um quadrangular com jogos só de ida. O Santos triunfou em 1968 contra Internacional, Vasco e Palmeiras.

Na Libertadores, o principal torneio mata-mata disputado pelo Santos, a equipe foi eliminada nas semifinais em 1964 e 1965 –desistiu de participar em 1966 e 1969.

PRÓ-PONTOS CORRIDOS

A opinião de Lima não é muito diferente do que pensam Coutinho, Pepe e Dorval. Todos convidados pela Folha para debater o assunto.

Pepe defende que o sistema do campeonato mais importante premie sempre o melhor.

"Não tem fórmula mais justa para comparar quem é o melhor time. Deveriam discutir a quantidade de times, de datas, mas não o formato. Se os brasileiros que jogamos pelo Santos fossem em pontos corridos, nossas vitórias seriam ainda mais largas", afirma o ex-ponta esquerda.

"Acho que pontos corridos é até mais atraente. Meu clube joga contra o seu em casa e fora. O que precisa avaliar é que os times estão mal, não há fórmula do campeonato. Futebol brasileiro caiu muito de qualidade e a gente deveria melhorar a formação no início, na base, para ter melhores frutos", diz Dorval.

"Companheiro, eu sou a favor da fórmula que faça o Santos campeão", brinca Coutinho. "Mas pontos corridos é o mais justo. Se fosse assim na minha época, o Santos seria recordista de taças".

Apenas Clodoaldo é a favor da volta do mata-mata.

"Eu acho que faz bem para o futebol ter renovação ou mudança de vez em quando para estimular a torcida, mexer com os times. Dá para pensar em uma fórmula mista, com uma quantidade de jogos justa para todos. Depois, o mata-mata permite surpresas, que é o lado bom do futebol. O torcedor gosta disso também. A tendência é termos mais público nos jogos decisivos. Até o jogador gosta. A adrenalina é mais forte em uma decisão de dois jogos. Acho que todos ganham", afirma o ex-volante.


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