Folha de S. Paulo


Ainda estou longe do auge, há muito para melhorar, diz Feijão

Um dia após sair de quadra derrotado em uma partida histórica contra Leonardo Mayer, João Souza, o Feijão, ainda sentia dores. "Elas não pararam desde ontem".

Camisa amarela, tênis com cadarços desamarrados, rosto e braços queimados, teve dificuldade até para se acomodar em uma poltrona no saguão do hotel no qual a equipe brasileira se hospedou em Buenos Aires durante o confronto com a Argentina, valido pela primeira rodada do Grupo Mundial da Copa Davis.

"Triste" devido ao revés para o arquirrival –Thomaz Bellucci perdeu por 3 sets a 1 para Federico Delbonis no jogo que selou a vitoria argentina por 3 a 2-, Feijão ainda tentava processar o impacto de partida contra Mayer em sua carreira.

"Vai me dar mais confiança", afirmou. "Mas a ficha ainda não caiu direito."

O duelo durou incríveis seis horas e 42 minutos e se constituiu na partida (de simples) mais longa da historia da Copa Davis e a segunda maior em todos os tempos.

Depois da maratona, ainda no complexo multiuso Tecnópolis, comeu macarrão para repor as energias. Não chorou em momento algum. No hotel, passou a noite quase em claro, em parte pela dor e em parte pela adrenalina.

Nesta entrevista à Folha, ele conta que o embate com Mayer será um divisor de águas na carreira, que está longe do auge e que não está preparado para ser ídolo.

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FOLHA - Você foi um dos protagonistas de um dos jogos mais longos da história, mas o Brasil acabou eliminado pela Argentina. Qual sentimento fica para você?
João Souza - Particularmente, estou bem triste. Se o Thomaz [Bellucci] tivesse ganho não estaria nem ligando para o cansaço. Nosso objetivo final não foi concretizado. Alguém tinha que perder e, infelizmente, fomos nós. Vou levar para o resto da vida essa frustração, mas a gente está acostumado. Toda semana é assim.

Agora que a parte mental entra, para esquecer isso e continuar a vida. Vou tentar tirar o máximo de coisas positivas

Mas a sensação é de sair fortalecido após este confronto, não?
Com certeza. Eu saio com muita confiança, O negócio é tirar algo positivo. Faz parte, agora é esperar pela repescagem. Aqui foi uma pena, querendo ou não o confronto não era tão duro perto de outros [possíveis dentro do Grupo Mundial].

A repercussão do seu jogo foi enorme no Brasil. Conseguiu ver os desdobramentos?
Ainda estou muito cansado, nem pensei muito nisso. A repercussão no Brasil foi grande, meus amigos estavam me mandando coisas. Não caí muito na real sobre o que aconteceu. A ficha não caiu ainda.

Como foram os momentos depois da derrota?
Na primeira hora e meia, eu estava sentindo muitas câimbras, mas depois foi melhorando. Cheguei no quarto e fiquei deitado lá. Ainda saí com meus pais, mas quase nem consegui falar. Eles estavam muito felizes, demais.

Você já afirmou ser o melhor momento de sua carreira. Mas acredita ter chegado ao ápice técnico e físico?
Não me vejo no auge ainda, acho que estou bem longe dele. Na parte mental, ainda tem coisa para melhorar. Na parte física, ainda posso evoluir bastante. Tenho que ficar mais ágil e com mais explosão. Meu deslocamento e minha mobilidade em quadra ainda não são os ideais.

Você foi muito aclamado no domingo. Se tornar um ídolo do esporte nacional passa por sua cabeça? É um objetivo?
Na verdade, acho que ainda não sou [ídolo]. Nunca pensei nisso. Mas é legal ser reconhecido assim pela galera. É algo que só me dá mais força.

A experiência por participar de um confronto como este representa quanto?
Olha, valeu por uns belos anos de treino (risos). Depois da sexta-feira eu tinha certeza que a gente ia ganhar.

Houve críticas, dentro da própria equipe brasileira, quanto ao comportamento de jogadores argentinos, como Carlos Berlocq, que ficou próximo ao banco adversário inflamando a torcida. Você acha que eles pegaram pesado?
Que nada. Realmente acho que não. Eu faria o mesmo. Se fosse no Brasil acho que faria o mesmo ou até pior.

Esse confronto pode ser um marco em sua carreira?
Com certeza. Sem dúvida. Quero evoluir mais passo a passo. Agora, é focar em [no Masters 1.000 de] Miami, que é meu próximo torneio, e em chegar no top 60 do ranking.

RAIO-X
JOÃO SOUZA, O FEIJÃO

NASCIMENTO
27.mai.1988 (26 anos), em Mogi das Cruzes (SP). É profissional desde 2006

TÉCNICO
Ricardo Acioly

ALTURA
1,93 m

PESO
88 kg

RANKING ATUAL
72 (melhor da carreira)

EMPUNHADURA
Destro


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