Folha de S. Paulo


Despoluição da baía de Guanabara na Olimpíada divide família Grael

Grael foi escolhido pela Secretaria Estadual do Ambiente para planejar a limpeza da baía de Guanabara e evitar que o lixo atrapalhe atletas na Olimpíada de 2016 e no evento-teste, em agosto.

Ao mesmo tempo, Grael não acredita que a despoluição seja possível. Lamenta que a oportunidade de limpar a baía tenha sido desperdiçada e afirma que não há mais tempo para solucionar o problema até os Jogos.

Não se trata de contradição, mas sim "divisão familiar". Enquanto o engenheiro florestal Axel Grael estuda nova forma de limpar a baía, a sobrinha e velejadora Martine Grael, escolhida a melhor do mundo em 2014, vê com "descrença a iniciativa.

A Secretaria Estadual do Ambiente suspendeu há quase um mês o serviço de limpeza do espelho d'água da baía. Alegou que os ecobarcos –que recolhiam o lixo da baía– e as ecobarreiras –que impediam a entrada de detritos de rios afluentes na baía– eram ineficientes como estavam estruturadas. Os projetos serão remodelados, mas sem data para retornar.

A notícia desagradou Martine, há muito crítica sobre a política de despoluição do local de prova das velas.

"É horrível saber que os melhores velejadores do mundo estarão no Rio, numa Olimpíada, e terão que entrar nessa água suja para competir", afirmou a velejadora.

Já o tio, Axel, acredita ser viável um espelho d'água limpo, sem prejudicar a competição –atletas temem que lixo se agarrem à embarcação, interferindo nos resultados.

"É plenamente possível [ter provas sem problemas]. Até o evento-teste dá para melhorar bastante", disse o engenheiro florestal.

Axel, vice-prefeito de Niterói, diz compreender o desapontamento da sobrinha.

"Meu comportamento é buscar soluções. Nem todo mundo é assim. É natural que o foco da Martine seja a preparação para a Olimpíada. É natural que as pessoas tenham um sentimento de frustração. Mas eu dediquei a minha vida toda a buscar soluções", disse Axel.

Apesar de desacreditada, Martine diz crer que o tio pode ter razão.

"Eu sou bem pessimista, principalmente pelo que vi na minha vida inteira. Pode ser que ele tenha mais razão do que eu, ele sabe os dados. Eu sou uma mera observadora que veleja na baía de Guanabara", disse a velejadora.

O governo do Rio já admitiu que pode não cumprir a meta de tratar 80% do esgoto lançado na baía de Guanabara.


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