Folha de S. Paulo


Técnico tinha planejado passar 2015 na roça, mas é rival do Palmeiras

Luciana Flores - 17.fev.2015
Evandro Guimarães faz anotações durante treino do Vitória da Conquista
Evandro Guimarães faz anotações durante treino do Vitória da Conquista

"Pode perguntar porque aqui ninguém tem nada para esconder."

Evandro Guimarães, 41, tem certeza absoluta de que sua equipe, o Vitória da Conquista não vai se dar mal contra o Palmeiras nesta quarta (4), pela Copa do Brasil. O clube baiano, novato no Estado, foi criado há dez anos. Em 2015, lidera o estadual e não perdeu até agora na temporada.

"Nós não vamos perder para o Palmeiras. Vamos ganhar de 1 a 0 ou empatar. Nem se discute o favoritismo deles, mas vamos levar a decisão para São Paulo", garante.

Pelas regras das fases iniciais do torneio, se o visitante vencer por dois ou mais gols de diferença, se classifica sem precisar fazer a partida de volta.

Luciana Flores
Paulo Almeida chuta durante jogo pelo Vitória da Conquista
Paulo Almeida chuta durante jogo pelo Vitória da Conquista

Guimarães, baiano que se mudou para São Paulo aos 13 anos e trabalhou como auxiliar e técnico no Grêmio Barueri, nem esperava estar no comando do Vitória da Conquista. Ele havia deixado o time no final do ano passado. Havia decidido dar um tempo fora do futebol. Foi substituído por Fernando Alcântara.

"Eu estava na roça, capinando, cuidando da vaca que a gente tem... Nossa família tem um pedaço de terra perto de Porto Seguro. Estava lá, cuidando da minha vida. Nem pensava em futebol", confessa.

O presidente do Vitória da Conquista, Ederlane Amorim, telefonou. Havia decidido demitir Alcântara após apenas dez dias de trabalho. Não havia disputado nenhuma partida. Não tinha sequer comandado um coletivo na pré-temporada da equipe. A versão oficial foi que o técnico estava com "problemas pessoais".

"Acho que eles não se identificaram muito, não. Um não gostou do jeito do outro trabalhar e deu nisso. O presidente me chamou de volta. Aceitei", confirma.

A família preferia que ele tivesse ficado na roça. Temiam que a pressão do futebol exigisse muito. Estavam com uma certa dose de razão; Na semana passada, após um gol impedido validado para o Juazeirense, Guimarães passou mal. Expulso por reclamação, começou a reclamar de dor no peito. O braço esquerdo ficou dormente. Foi levado para o hospital. Sites da Bahia chegaram a noticiar que ele teve um enfarto.

"Mentira, não é? Eu tive uma crise de pressão alta. Fiz exames nesta semana e está tudo bem. Não vou morrer, não. E não vai ser o Palmeiras que vai me matar."

As duas filhas que moram em São Paulo não gostaram muito do que ouviram. Pediram para ele abandonasse tudo. Não vai acontecer, pelo menos por enquanto.

Guimarães está animado com o trabalho no Vitória da Conquista. Conseguiu a contratação de atletas veteranos como o volante Paulo Almeida (ex-Santos), o goleiro Viáfara (ex-Vitória), o atacante Neto Potiguar (ex-Bahia) e o meia André Belezinha (outro ex-Santos e Colonia, da Alemanha). Nos últimos três anos, o time chegou duas vezes às semifinais do estadual. O treinador acredita que em 2015 pode ser campeão. E, de quebra, surpreender o Palmeiras na Copa do Brasil.

"Meu perfil sempre foi ofensivo. No ano passado, fomos o melhor ataque do Campeonato Baiano e eu concorri a melhor técnico da competição. Mas o Palmeiras é outra coisa, não podemos sair de qualquer jeito", afirma, sem medo de deixar escapar como vai entrar em campo. Até porque, como ele mesmo diz: "Posso dizer o que quiser porque o Oswaldo de Oliveira não vai se assustar com o técnico do Vitória da Conquista."

Isso quer dizer que, como qualquer outro time pequeno na Copa do Brasil, os baianos vão jogar atrás, tentando administrar o placar. Há um outro fator que pode ajudar o time que recebeu o apelido de "bode".

"Nosso estádio não nos favorece apenas por ser nossa casa e porque estará lotado. O campo não é bom. E está chovendo muito por aqui. Na hora da partida, estará pior ainda. Eles [do Palmeiras] não vão encontrar facilidade", finaliza.


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