Folha de S. Paulo


Anderson está 'preparado para bater e também para apanhar', diz seu médico

Reprodução
Anderson Silva e Nick Diaz se encaram durante pesagem para luta em Las Vegas
Anderson Silva e Nick Diaz se encaram durante pesagem para luta em Las Vegas

Muita gente torce o nariz para esportes de luta como o MMA por causa da violência. Por causa do treinamento, porém, o lutador sofre muito menos do que parece aos olhos do espectador.

Quanto melhor o seu condicionamento físico, mais resistência ele terá às pancadas que recebe e mais rápida será sua recuperação. É o que diz o especialista em traumatologia do esporte Marcio Tanure, membro da comissão técnica de MMA e médico de Anderson Silva há dez anos.

"Aparentemente as lesões parecem mais feias do que realmente são. Você pode ficar impressionado com um hematoma, um edema, um corte no momento da luta, mas, em geral, a recuperação desses atletas é rápida", afirma Tanure. "Isso não significa que seja um esporte saudável. Saudável é ir à academia, correr na praia".

Por isso, segundo o médico, não adianta ser apenas habilidoso ou forte, o corpo precisa virar uma fortaleza por meio de um trabalho de prevenção e equilíbrio muscular.

Ele ressalta ainda a capacidade psicológica de se blindar durante uma luta. "A mente interfere no limiar de dor, que é individual".

O quanto a sensação de dor é psicológica?

"A dor existe, mas cada lutador suporta de uma forma diferente. O Anderson sempre foi um cara acima da média nesse sentido", afirma Tanure. "Ele demonstra esse espírito de campeão mesmo depois de estar perdendo e apanhando, não desiste porque está preparado para bater e também para apanhar".

O atleta bem preparado também se recupera mais rapidamente porque o corpo já está acostumado aos tipos de trauma decorrentes da luta. Sem esse condicionamento, sem ter o corpo treinado para levar pancada, poderia haver danos graves como hematomas maiores, fratura, lesão de baço, hemorragia interna, deslocamento ocular e, em casos extremos, traumatismo craniano.

"Infelizmente, o que aconteceu com Anderson foi uma fatalidade", diz Tanure sobre a fratura da perna esquerda em luta contra o norte-americano Chris Weidman em dezembro de 2013.

SEQUELAS

Segundo Tanure, apesar da violência do esporte, o MMA tem uma incidência de lesões menor do que o futebol americano, em que também há muito contato.

Mas, a longo prazo, quais as eventuais sequelas de levar tanta pancada? "Ainda não temos como saber. É preciso de anos de estudo. A Cleveland Clinic, nos Estados Unidos, começou a estudar os efeitos das repetidas lesões ocasionadas pelo esporte no ano passado, mas é um processo que levará dez anos ao todo para ficar pronto".

A jornalista Mariliz Pereira Jorge viajou a convite da Budweiser


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