Folha de S. Paulo


Técnicos avaliam que jovens atletas pulam etapas na base

Neílton era reserva do Santos durante a campanha na Copa São Paulo de 2013 e provavelmente terminaria o torneio assim não fosse a semifinal diante do Palmeiras.

Escalado como titular, ele marcou três gols, eliminou o rival alviverde e deixou a Arena Barueri sendo comparado a Neymar. Foi o suficiente para continuar no time. Na final diante do Goiás, marcou de novo e levou o Santos a ser campeão após 29 anos.

Depois do torneio, o atacante foi promovido à equipe profissional. Um ano depois, porém, deixava o clube, que desistiu de renovar o seu contrato por considerar a pedida salarial muito elevada –ofereceu R$ 40 mil mensais, enquanto o atacante queria o dobro. Neílton foi para o Cruzeiro e disputou apenas quatro jogos no ano.

O caso da revelação santista é comum ao de muitos outros jogadores campeões do torneio de base, promovidos ao time profissional, mas que não se firmam.

"A transição não tem sido bem feita e isso explica porque há um número tão elevado de jogadores que não emplacaram ainda. Muitas vezes bastam alguns bons jogos na Copa São Paulo para o atleta ser promovido ao time profissional. O ideal seria mais tempo de preparo", defende Edison Rocco, técnico do Corinthians sub-15.

Divulgação
Hugo Gomes, zagueiro e capitão do São Paulo na Copa São Paulo de Futebol Júnior
Hugo Gomes, zagueiro e capitão do São Paulo na Copa São Paulo de Futebol Júnior

Três anos após o título corintiano na edição de 2012 da Copinha, apenas o goleiro Matheus está entre os profissionais do clube. Desde 2013, não jogou nenhuma partida na equipe. Outros cinco jogadores daquele time campeão do torneio tem contrato com o Corinthians, mas estão emprestados para equipes que disputam no máximo a Série C do Campeonato Brasileiro.

Perambular por clubes menores tem sido praxe entre os campeões da Copa São Paulo. Um caso conhecido é do meia Adryan. Destaque do campeão Flamengo em 2011, ele pouco rendeu entre os profissionais do time.

Por isso, foi emprestado ao Cagliari, onde fez cinco jogos na elite do futebol italiano, e agora está no Leeds United, na segunda divisão inglesa.

"Os jogadores sobem muito cedo. Antes dos 23, 24 anos, o jogador não está maduro. Mas há pressa. O ideal é o jogador ficar na base até os 20. Daí para frente, ir para o profissional e ir entrando aos poucos", avalia Erasmo Marcelo Damiani, coordenador geral das categorias de base do Palmeiras.

Recentemente, Damiani prestou consultoria a Gilmar Rinaldi, coordenador de seleções da CBF, sobre o funcionamento das categorias de base no Brasil. Ele opina que a preparação inicia na base, mas o jogador só é lapidado no time profissional.

"Ganhar a Copa São Paulo não indica nada. Não é último degrau de nada. O torneio ganhou um status que não é válido. Vários ganham e não tem sucesso, ou ganham em um ano e vão brilhar quatro anos depois, em outras posições até. Assim como perder também não significa insucesso", afirma Marcelo Damiani.


Endereço da página:

Links no texto: