Folha de S. Paulo


Temor ao ebola e 'jeitinho' para evitar punição levam Copa Africana à Guiné Equatorial

A Copa Africana de Nações começa neste sábado (17) na Guiné Equatorial, país que foi escolhido como sede somente em novembro de 2014, após eliminação da candidatura do Marrocos e posterior exclusão da própria seleção da competição. A seleção de Guiné Equatorial havia sido excluída da competição nas pré-eliminatórias por inscrever um jogador nascido em outro país, mas foi readmitida após o país virar sede.

Em outubro de 2014, por recomendação do Ministério da Saúde do país, o Marrocos pediu adiamento da Copa Africana por conta do temor da propagação do vírus ebola.

Ainda que à época não estivesse entre os países afetados pelo vírus, o Marrocos temia que a amplitude da epidemia na África Ocidental e o número de torcedores dessa parte do continente que costumam ir à competição propagassem o vírus na região.

A Confederação Africana de Futebol negou o pedido de adiamento, alegando impossibilidade de mexer no calendário, e diante do impasse, excluiu o direito do Marrocos de sediar a competição e eliminou a seleção de futebol do país.

À época, a posição de Marrocos foi criticada e classificada como "preconceituosa"

Três dias após a exclusão do Marrocos, em novembro, Guiné Equatorial foi anunciada como sede.

Amr Abdallah Dalsh/Reuters
Balboa comemora gol da seleção de Guiné Equatorial
Balboa comemora gol da seleção de Guiné Equatorial

Desde meados da década de 1990, a antiga colônia espanhola tornou-se uma das maiores produtoras de petróleo da África subsaariana e em 2004 foi classificada como o país cuja economia crescia com maior velocidade no planeta.

Rico devido ao petróleo, o país tem um dos mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano do planeta. Menos da metade da população do país tem acesso a água potável.

O país já tem alguma estrutura para sediar o torneio, pois em 2012 recebeu a competição junto do Gabão, país-vizinho. Os estádios nas cidades de Malabo (capital) e Bata serão reaproveitados agora, mas em Ebebiyín e Mongomo foram feitas pequenas obras de adaptação do que já existia. Em Ebebiyín, um dos estádios que receberá jogos tem capacidade de apenas 5 mil lugares.

O presidente do país, Teodoro Obiang Nguema, apontado como oitavo presidente mais rico do mundo pela revista Forbes, assumiu seu cargo em 1979 após um golpe.

Ricardo Stuckert - 5.jul.2010/AFP
O então presidente Lula em visita a Guiné Equatorial em 2010 ao lado do presidente Teodoro Obiang Nguema
O então presidente Lula em visita a Guiné Equatorial em 2010 ao lado do presidente Teodoro Obiang Nguema

Conhecido por investir grandes somas de dinheiro no futebol, Nguema comprou 40 mil ingressos para a competição, que ele disse que distribuirá aos mais pobres. Sua intenção é lotar os estádios para dar credibilidade à competição.

Para encorajar as pessoas a irem aos jogos, ele estabeleceu pausas de duas horas nos dias de trabalho que tenham partidas da Copa Africana.

Em agosto de 2014, nas pré-eliminatórias desta Copa Africana, a seleção de Guiné Equatorial foi eliminada após inscrever um jogador que na verdade era camaronês. Em 2012, o país já havia sofrido críticas parecidas por naturalizar jogadores de outros países africanos para melhorar a própria seleção. Para esta edição, a seleção foi readmitida por representar o país-sede.

A atual campeã Nigéria caiu nas pré-eliminatórias e não disputará a Copa Africana. As seleções de Argélia, Gana e Senegal, com jogadores distribuídos por clubes europeus, despontam como grandes favoritas. No entanto, da última vez que a Guiné Equatorial foi sede, em 2012, a "zebra" Zâmbia ficou com o título.

Diferentemente de Guiné, na África Ocidental, um dos três países mais atingidos pelo vírus e com o qual é muitas vezes confundida, a Guiné Equatorial não teve até o momento nenhum caso de contaminação por ebola.

O país mobilizará um grande contingente de agentes de saúde para monitorar possíveis contaminações, e os jogadores das 16 seleções que participarão do torneio serão submetidos a testes para a detecção do vírus.

JOGOS DO FINAL DE SEMANA

Sábado (17)

Guiné Equatorial x Congo

Burkina Faso x Gabão

Domingo (18)

Zâmbia x Congo

Tunísia x Cabo Verde


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