Folha de S. Paulo


Ex-craques revelam preocupação com situação do Santos

José Macia, 79, o Pepe, ex-ponta-esquerda nos anos de ouro do Santos, escolheu a cidade de Socorro, a 132 km de São Paulo, para descansar. Ao lado da mulher, Lélia Macia, a ida ao interior tornou-se uma tradição para o veterano nos últimos anos, mas dessa vez o retiro foi abalado.

"Tive um momento de tristeza durante esse período de descanso ao acompanhar as notícias e ver que o Santos passa dificuldade, que jogadores acionam a Justiça contra o clube e está complicado contratar", diz Pepe à Folha.

Companheiro de Pelé e considerado uma lenda na Vila Belmiro, o ex-jogador e técnico considera a atual crise financeira do clube como a mais grave da história.

Gabo Morales/Folhapress
Pepe, ponta esquerda do Santos entre 1957 e 1965
Pepe, ponta esquerda do Santos entre 1957 e 1965

O Santos deve salários, direitos de imagem, 13º, férias e fundo de garantia para jogadores do elenco e até para quem já saiu -caso do atacante Leandro Damião, emprestado para o Cruzeiro. Seis jogadores já entraram na Justiça para cobrar os valores.

Com dívida de R$ 400 milhões, o clube, que neste ano passou a ser presidido por Modesto Roma Jr., busca parceiros para sair da lama.

"Já vi o Santos em momentos difíceis, mas jamais nessa situação de emergência financeira. É a pior crise da história", afirma Pepe, segundo maior artilheiro de todos os tempos do Santos, com 405 gols, atrás só de Pelé.

Pepe sugere uma solução caseira para o clube se reerguer. "A base sempre foi aliada do Santos nessas horas. Talvez seja hora de deixar de contratar e tentar formar um time com os meninos", diz.

SUSTO

Carlos Alberto Torres, 70, ex-lateral direito do Santos, e Edu, 65, ex-ponta esquerda do clube, também vêem o quadro atual do Santos com tristeza e preocupação.

"Foi uma série de contratações supervalorizadas pelas últimas gestões. O Santos revelou Neymar e Ganso e aplicou mal o dinheiro. Gastou milhões em jogadores que não valiam tanto", diz Edu, sem, contudo, indicar nomes.

Bruno Domingos/Reuters
Carlos Alberto Torres, lateral direito do Santos entre 1965 e 1975, segura troféu da Copa do Mundo
Carlos Alberto Torres, lateral direito do Santos entre 1965 e 1975, segura troféu da Copa do Mundo

Para Torres, o cenário assusta. "Estou no Rio [sem acompanhar o dia a dia do clube] e pensei que o Santos era um dos poucos clubes com dinheiro em caixa por causa da venda do Neymar [em 2013], mas não é", diz.

Para ele, a prioridade da diretoria deve ser negociar os salários atrasados.

"Hoje, o Botafogo está saindo de uma crise financeira e só faz isso com os pés no chão. Muitos jogadores tiveram os salários renegociados e recebem menos de R$ 100 mil mensais. Só nomes como o Jefferson, que é de seleção, ganham mais", compara.

Em relação à base como salvação, ele é mais reticente que Pepe. "Não adianta se apegar à base pensando que é a solução econômica. Resolve se tiver um Neymar, um Ganso. Se a safra não é boa, não vai adiantar", completa.


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