Folha de S. Paulo


Astro dominicano planeja tri olímpico no Rio, onde fracassou no Pan

Saltar os obstáculos que se repetem à sua frente, ser o mais rápido possível e voltar ao lugar de onde saiu.

A prova que Félix Sánchez escolheu para sua vida se parece com a vida que Félix Sánchez escolheu para se provar

Bicampeão olímpico e bi mundial nos 400 m com barreiras (consiste em dar uma volta na pista saltando dez obstáculos), o dominicano de 37 anos nascido nos EUA disse à Folha que sonha se tornar o maior atleta de todos os tempos na prova.

Na linha de largada do novo objetivo, ele já traçou a estratégia: antes de se aposentar, retornará ao Rio, a Pequim e a Londres e, assim, concluir sua última volta.

"Eu quero ir ao Rio para vencer a Olimpíada e ser o único atleta dos 400 m com barreiras a ter três ouros na história", afirma Super Sánchez, apelido que leva no braço direito em tatuagem com o símbolo do Super-Homem.

Os americanos Angelo Taylor, Edwin Moses e Glenn Davis têm dois ouros cada.

A volta ao Rio é motivada pelo fracasso no Pan de 2007. No mesmo Engenhão, nove anos depois, o maior atleta dominicano da história quer reescrever este capítulo decepcionante para ele.

"Competi apenas uma vez no Rio, no Pan, e tenho uma lembrança muito ruim porque estava vencendo, perdi o foco, toquei na última barreira e acabei em quarto", diz.

Naquele ano, Sánchez já era campeão olímpico (2004), bi mundial (2001 e 2003) e defendia o título conquistado quatro anos antes, em casa, no Pan de Santo Domingo. O estádio em que ganhou o ouro, aliás, foi rebatizado com seu nome após Atenas-2004.

Ele voltou ao Rio, em 2013, para receber o troféu de "Retorno do Ano" no Prêmio Laureus, o Oscar do esporte.

"Foi um grande momento. Tive tempo para relaxar na praia, ver coisas de turistas e provar a bela culinária brasileira. Os brasileiros me lembram os alegres e amorosos dominicanos, gostam de comer, beber e aproveitar a vida", diz o atleta nascido nos EUA, filho de dominicanos.

Todo ano, entre outubro e fevereiro, ele volta para a capital da República Dominicana para as férias e o início do treinamento da temporada.

HOMENAGEM

O prêmio Laureus foi em razão do ouro em Londres, cidade onde quer fazer sua última grande competição.

"Irei me aposentar após 2017. Quero ir para mais dois Mundiais [Pequim-2015 e Londres-2017], uma Olimpíada [Rio-2016] e encerrar minha carreira com dez Mundiais e cinco Olimpíadas, algo que nenhum outro atleta dos 400 m com barreiras fez".

A volta a Pequim também será marcante por que foi durante aqueles Jogos que Lilian, avó de Sánchez, morreu aos 70 anos. Era véspera de sua estreia, e a morte de quem ele considerava sua mãe o abalou. O atleta não se classificou às finais e aponta aquela como "a pior corrida de sua vida".

"É mais uma chance para eu me redimir", afirma.

O ouro em Londres, quatro anos depois, foi em homenagem a avó. Ele correu com o nome dela grafado nas sapatilhas e uma foto "perto do coração", atrás do número que carrega no peito.

"Ainda fico emocionado quando revejo aquela noite. Estava fazendo tudo por minha avó, queria que ela se sentisse orgulhosa. Estava mais focado do que nunca e me recusava a desistir", lembra.

O ouro chegou após mais uma barreira superada na vida. Ele chorou, após a prova e no pódio, e foi responsável por um dos momentos mais emocionantes dos Jogos.

As voltas de Sánchez não param. Em 2015 ele já planeja o bicampeonato Pan-Americano, em Toronto, no Canadá, país onde disputou o primeiro Pan (Winnipeg-1999).

"A única coisa que me falta são mais medalhas. Eu quero fazer história como o atletas dos 400 m com barreiras com a carreira mais longa e com o maior número de medalhas", conclui.

Assim, não importa em qual raia largue e o quão longo vai ser o caminho, Félix Sánchez salta as barreiras e mira o final da prova para dar a sua volta por cima.


Endereço da página:

Links no texto: