Folha de S. Paulo


Falta 'um pouquinho só' para Massa brigar por título, diz Fittipaldi

Vinicius Pereira/Folhapress
Emerson Fittipaldi em dia de treinos no GP Brasil
Emerson Fittipaldi em dia de treinos no GP Brasil

A apenas alguns minutos do início do GP Brasil de F1 no último domingo (9), Emerson Fittipaldi visitou os boxes da escuderia Lotus. Em meio ao turbilhão de atividades pré-prova, a conta da equipe no Twitter encontrou tempo para exercer sua devoção.

"Três minutos para começar. E temos uma lenda entre nós. Olá Emerson Fittipaldi", publicou a Lotus antes de iniciar os trabalhos com seus pilotos, Romain Grosjean e Pastor Maldonado. Uma foto do brasileiro com seus generosos e recorrentes óculos escuros acompanhava a mensagem.

Empresário e investidor, o ex-piloto de 67 anos ainda tem relação intrínseca com o automobilismo. Organizador da etapa de São Paulo da Le Mans 6h desde a criação da categoria em 2012, a convite do então presidente da FIA (Federação Internacional de Automobilismo) Jean Todt, Fittipaldi ainda mostra empolgação ao falar do esporte.

Em entrevista à Folha, ele comenta a atual temporada da F-1 ("Hamilton é excepcional, mas Alonso é o mais completo"), as perspectivas em relação aos pilotos brasileiros ("Massa está a alguns décimos por volta de disputar um título"), a atual crise na categoria ("as equipes grandes poderiam colocar três carros no grid"), e dá mais detalhes sobre a prova Le Mans 6h, que acontecerá no autódromo de Interlagos nos dias 28, 29 e 30 de novembro.

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Folha - Quem leva esta temporada da F-1: Lewis Hamilton ou Nico Rosberg?
A decisão deste ano vai ser muito difícil, ainda mais com a última prova valendo o dobro de pontos. As maiores chances matemáticas são de Hamilton, mas o campeonato ainda está aberto, tudo pode acontecer.

O Hamilton é o favorito a campeão da atual temporada. Ele é o melhor piloto da categoria na sua opinião?
Eu tenho uma admiração muito grande pelo Fernando Alonso. A Ferrari é um carro muito difícil de guiar, e mesmo assim ele se mostra o mais completo, na minha opinião. Ele e o Felipe [Massa] são pilotos diferentes, que têm uma característica de conseguirem se manter rápidos até o final da corrida.
O Lewis também é um piloto excepcional, e está em uma parceria muito forte com a Mercedes.

O Felipe Massa vem fazendo boas provas, mas não está disputando o título. Ele está com 33 anos e não conseguiu ser campeão até o momento. Ainda dá tempo?
Eu sempre analiso o fim de uma temporada e o começo da próxima. A Williams melhorou muito e o resultado do Felipe aqui no Brasil mostrou potencial. A chance da Williams depende do trabalho ao longo do inverno que chega agora e do aproveitamento das informações passadas pelo Felipe.

A chegada do Felipe à Williams foi muito boa para a equipe, porque ele desenvolveu o carro, fez ele muito veloz. Falta um pouquinho só para ele brigar por título em 2015. O carro está com um motor Mercedes muito bom.

Reprodução/Twitter/Lotus_F1Team
Emerson Fittipaldi nos boxes da escuderia Lotus minutos antes do GP Brasil de F1
Emerson Fittipaldi nos boxes da escuderia Lotus minutos antes do GP Brasil de F1

De olhar, acho que o carro precisa de acerto de "downforce", um pouco mais de estabilidade, mas está no caminho. Se a Williams melhorar no ano que vem, ganhar três ou quatro décimos por volta no chassi do carro, ele vai entrar na disputa do título, com certeza.

Em 2015, o Felipe Nasr estreará na F-1 pela Sauber. O que se pode esperar dele?
Conheço o Felipe desde os tempos em que ele corria de kart. É um piloto excelente, como mostrou em todas as categorias pelas quais passou. Espero que a Sauber apresente um carro competitivo para ele. É um ano para ele aprender, de transição, porque ele estará começando na F-1.

Você fundou a única equipe brasileira da história da F1, a Copersucar-Fittipaldi. Como você vê essa crise pela qual passa a F1 hoje, em que se tornou praticamente inviável manter uma equipe sem patrocínios milionários?
Historicamente, a F-1 sempre tem que baixar o custo, que é muito alto. Hoje estamos em um momento em que as equipes grandes podem fazer o que já foi feito nos anos 1960 e 1970: colocarem três carros no grid.

Outra solução seria reduzir os custos para que as equipes menores também possam participar.

Você é o organizador da Le Mans 6h de São Paulo. Qual a dimensão do evento e como começou sua participação?
Quando assumiu a presidência da FIA há uns quatro ou cinco anos atrás, Jean Todt quis recriar um campeonato importantíssimo nos anos 1970 e 1980, que hoje se chama World Endurance Championship, e me convidou para organizar a primeira etapa no Brasil em 2012.

O público brasileiro conhece muito a F1 e a Formula Indy, mas não conhece Le Mans. Em 2014, teremos a terceira edição do evento no país. O novo regulamento da categoria dá a liberdade para a construção do motor que se queira, com a energia de escolha da equipe: gasolina, diesel, etanol, eletricidade, híbrido, etc..

Há apenas a limitação da quantidade de energia gasta por volta. Vence o carro que consegue gerar o máximo de velocidade São carros muito tecnológicos, desenvolvidos por centros de pesquisa das equipes. Quem for mais eficiente para consumir energia andará mais rápido e poluirá menos. É o problema energético do mundo de hoje, e as soluções encontradas em Le Mans ainda chegarão aos carros de rua.

Estamos tentando atrair um público que já não vai mais nas corridas atualmente.

Por quê o público não acompanha mais?
Desde que o Ayrton [Senna] morreu, deu uma esfriada no Brasil. Como tivemos oito títulos praticamente em seguida [dois de Fittipaldi, três de Nelson Piquet e três de Ayrton Senna], isso colocava a família no domingo de manhã em frente à televisão.

Temos talentos, mas precisamos recuperar a posição que tínhamos antes.

Ao longo de sua carreira de piloto, você nunca participou da prova das 24h de Le Mans, apesar de ter declarado admiração pela categoria anteriormente. Por quê?
Quando eu era adolescente, com 17 anos, havia um piloto brasileiro muito bom chamado Christian "Bino" Heinz.

Em 1963, ele foi à Europa competir pela equipe Alpine, ao lado de Mauro Bianchi e Lucien Bianchi - respectivamente avô e tio-avô do piloto de F1 Jules Bianchi, que está internado após acidente no GP do Japão. O Heinz pegou uma mancha de óleo, capotou, o Alpine explodiu e ele morreu.

Em Le Mans, os carros chegavam a quase 400 km por hora, à noite, com chuva. Era muito perigoso. Aquilo ficou na minha cabeça, me deixou traumatizado.

Vinicius Pereira/Folhapress
Emerson Fittipaldi e Nelson Piquet em dia de treinos do GP Brasil de F1
Emerson Fittipaldi e Nelson Piquet em dia de treinos do GP Brasil de F1

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