Folha de S. Paulo


Rebaixamento para 4ª divisão indigna "torcedor solitário" do São Caetano

Fabio Braga/Folhapress
O torcedor do São Caetano Agostinho Folco assiste a um treino da equipe no estádio Anacleto Campanella
O torcedor do São Caetano Agostinho Folco assiste a um treino no estádio Anacleto Campanella

Agostinho Folco, 80, é presidente da torcida organizada mais famosa do São Caetano, a Bengala Azul, e não demora nem cinco minutos para se arrumar e encontrar a reportagem da Folha no estádio Anacleto Campanella. Ao chegar, ele mesmo adianta o assunto: "Veio enterrar a gente, né?", pergunta.

O fanático torcedor já sabe que o bate-papo é para falar sobre o calvário que parece não ter fim para um time que foi sensação no início do século 21, mas que hoje chora o rebaixamento para a Série D do Campeonato Brasileiro, equivalente a quarta divisão.

Em 17 jogos na Série C, o clube, vice-campeão nacional em 2000 e 2001 e da Libertadores em 2002, teve apenas cinco vitórias e caiu com uma rodada de antecedência.

"Eu vejo isso e lastimo muito, porque eu vi esse clube nascer e estou vendo esse clube praticamente desaparecer. Não dá para acreditar, parece brincadeira", disse Agostinho, indignado com a situação do time, fundado em 1989.

Este foi o terceiro rebaixamento em dois anos. Em 2013, o time caiu para a Série A-2 do Campeonato Paulista e para a Série C do Brasileiro. No Estadual deste ano, esteve na corda bamba. Ficou uma posição acima da zona da degola para a Série A-3.

Fabio Braga/Folhapress
O torcedor Agostinho Folco na sede da torcida Bengala Azul
O torcedor Agostinho Folco na sede da torcida Bengala Azul

O torcedor aposentado, que se mudou para São Caetano com três anos de idade, relembra os bons tempos do clube, quando foi campeão do Campeonato Paulista em 2004 e tinha até jogadores de seleção brasileira, mas fecha a cara para falar dos atletas do atual elenco e descarrega a raiva com tapas na mesa.

"Ver isso magoa. Esses atuais jogadores não dão valor para esse clube e para essa cidade. É lamentável. Para voltar, escalar tudo de novo, vai ser muito difícil", afirmou.

Presidente do São Caetano desde 1997, Nairo Ferreira, 65, assume parte da culpa pelo mau momento e admite ter falhado em contratações. O clube chegou a apostar em medalhões como o goleiro Fábio Costa e o meia Rivaldo. Ambos, porém, não renderam o esperado.

"Foram dois anos muito ruins para a gente. O time não encaixou e não houve comprometimento [por parte dos jogadores]. Todos nós erramos", disse Nairo.

As apostas fora das quatro linhas também não deram certo. Desde janeiro de 2013, o São Caetano teve 11 técnicos diferentes. Marcelo Veiga foi o que mais durou no cargo: 15 partidas.

"É a cultura do futebol brasileiro. É melhor substituir o treinador do que o elenco inteiro. É um erro e assumimos a responsabilidade, mas é a única forma de mudar o ânimo dos jogadores", afirmou o dirigente.

Com tantas mudanças desde o título do Paulista de 2004, a diretoria não conseguiu mais, em nenhum momento, formar um grupo unido, como aquele que brilhou na Copa João Havelange, em 2000, que tinha atletas como Silvio Luiz, Serginho, Adãozinho, Esquerdinha e Adhemar.

Preparador físico do São Caetano desde 1999, Reinaldo Alves da Silva lembra bem desse grupo que marcou o clube e lamenta, com um nó na garganta, a atual situação da equipe.

"Hoje não dá mais para formar uma família como aquela. Tem jogador que chega aqui e fica três meses e vai embora, nem sente o gosto do clube. Eu me sinto triste porque eu vivi aqui tudo de bom", disse Reinaldo.

O momento turbulento e a falta de envolvimento dos habitantes da cidade com o clube, o que não é de hoje, fazem os poucos torcedores do time temerem pelo fim do time que fará 25 anos em dezembro. Nairo, porém, se mostra confiante numa reviravolta.

"Estamos atravessando um momento difícil, mas não temo pelo fim. Temos uma base e uma estrutura", afirmou.


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