Pelo código de conduta das organizadas dos grandes clubes de São Paulo, homossexualismo não é tolerado. O risco é de expulsão. Ou pior.
Por três dias, a Folha conversou com integrantes de torcidas e cartolas. Embora eles reconheçam a probabilidade de que existam gays entre eles, sabem que eles não vão se revelar.
"Você já esteve em ambiente de torcedores organizados? Se esteve, sabe que esse comportamento não é aceito pelos demais. Mesmo que ele seja gay, não vai admitir nem para um amigo. Sabe que, se for descoberto, vai apanhar", disse dirigente da Gaviões da Fiel, que pediu anonimato.
O código de comportamento não é explícito. Não está na ficha de filiação, mas é claro para todos. Os gritos dos torcedores, até mesmo os não uniformizados, costumam ter termos homofóbicos.
As organizadas não suportam sequer jogadores que ofereçam indícios de que são gays. Tudo por medo de gozações dos rivais.
Quando Emerson Sheik postou foto em rede social dando selinho em amigo em um restaurante paulistano, em 2013, a Gaviões foi tomar satisfações com o atacante, que prometeu se retratar.
"Os Gaviões, como a maior organizada do Corinthians, tem o dever de dar satisfação e relatar tudo o que gera algum tipo de desconforto com o nome da fiel torcida", disse a entidade, em nota.
Não é exclusividade do Corinthians. Por acreditar que Richarlyson era homossexual (algo que ele sempre negou), a Independente gritava o nome de todos os jogadores antes de partidas do São Paulo. Menos o do meia.
Quando ele esteve na mira do Palmeiras, organizadas do clube protestaram no centro de treinamento. Uma das faixas levadas dizia que a "homofobia é verde".
O que vale para os atletas vale também para os integrantes das torcidas organizadas, lugar em que a homossexualidade também encontra uma barreira.