Folha de S. Paulo


'Foi um ato de traição', diz Juvenal Juvêncio sobre demissão

Juvenal Juvêncio, um dos protagonistas da cartolagem brasileira e presidente do São Paulo por quase dez anos em duas ocasiões (de 1988 a 1990 e entre 2006 e 2014), perdeu o seu poder no clube.

Carlos Miguel Aidar, eleito presidente com o seu apoio, demitiu-o do cargo de diretor das categorias de base nesta segunda-feira (15), durante reunião no Morumbi.

"Foi um ato de traição", afirmou Juvenal após ter sido informado da demissão.

A decisão de tirá-lo de sua diretoria foi tomada após uma crise política que ganhou visibilidade na semana passada, quando Aidar concedeu uma entrevista à Folha, na qual fez duras críticas à gestão de seu antecessor.

Editoria de arte/Folhapress

Em resposta à entrevista em que Aidar cita aumento de dívidas na gestão de Juvenal e benesses concedidas a cartolas do clube, o ex-presidente emitiu uma carta comentando as acusações. Essa carta foi determinante para a demissão do cartola.

Aidar ficou incomodado com o teor da resposta, divulgada na quinta (11), um dia após a publicação da entrevista. Juvenal disse que, apesar das divergências, permaneceria como diretor "não por mim, pelo presidente, ou por quem quer que seja". "Ficarei em nome do meu compromisso para com a instituição".

Esta declaração, entre outras, não agradou a Aidar, que decidiu tirar Juvenal de um dos cargos de comando. O atual presidente ainda aguardou o jogo contra o líder, Cruzeiro, no domingo (14), para fazer a demissão.

Outro fato que incomodou o atual presidente são-paulino foi o vazamento de informações internas do clube.

Aidar atribui a Juvenal a divulgação de um acordo que o São Paulo teria com a Caixa e com a empresa Serveng. Essas empresas, segundo o atual presidente, estavam acertadas para viabilizar a reforma do Morumbi.

Após o vazamento de que elas estariam na operação, ainda de acordo com Aidar, a Serveng deixou o projeto, o que pôs fim ao andamento das negociações.

Juvenal nega que tenha participado de qualquer vazamento de informações. "Eu não falo com jornalistas há cinco meses", diz.

O ex-presidente entende que "ciúmes", "vaidade" e medo de "figuras importantes" causaram sua demissão.

"Eu tenho que pedir desculpas aos sócios e aos conselheiros [por terem apoiado a eleição de Aidar]. Ele vai quebrar o clube. Ele é um desastre", afirmou Juvenal.

Também deixam o clube Marcos Tadeu e Geraldo Oliveira, que tinham cargos de comando nas categorias de base do São Paulo. Ambos mantinham relação próxima com o ex-presidente Juvenal.

O vice-presidente do clube, Roberto Natel, também pediu demissão do cargo em solidariedade a Juvenal.

Natel anunciou seu desligamento em reunião com toda a diretoria do São Paulo, no fim da tarde desta segunda. Disse não concordar com a maneira como foi conduzida a saída de Juvenal. O restante dos diretores, porém, demonstraram apoio a Aidar.

Mas, para Juvenal, podem vir mais mudanças após a sua saída. O ex-presidente cita, por exemplo, Milton Cruz (auxiliar-técnico) e Gustavo de Oliveira (superintendente de futebol) como pessoas que podem deixar o clube.

Em comunicado, Aidar agradeceu a Juvenal pelos serviços prestados ao clube e completou: "Neste momento, o São Paulo trilha novos caminhos". O presidente não retornou as ligações da reportagem para comentar as declarações de seu antecessor.

Colaborou RAFAEL VALENTE, de São Paulo


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