Folha de S. Paulo


Inspirada por brasileiro, inglesa de 73 anos será voluntária na Rio-16

A inglesa Rosemary Mula, 73, será uma entre milhares de voluntários que se inscreverão para atuar nos Jogos do Rio, em 2016.

Convidada especial para o evento de lançamento do programa de voluntariado, que ocorre nesta quinta (28) e abre o processo de inscrições, sua trajetória é singular.

Rosemary presenciou a glória e o ocaso do maior ícone olímpico do país: Adhemar Ferreira da Silva.

Em homenagem ao ex-atleta, morto em 2001, ela lançou há 11 anos uma bolsa esportiva para promover intercâmbio entre jovens atletas brasileiros e australianos –a distinção é mantida apenas com os recursos de Rosemary.

A escolha dos atletas é feita em parceria com a cantora Adyel, filha do ex-saltador.

A inglesa conheceu Adhemar há 58 anos. Na tribuna do estádio olímpico de Melbourne, em 1956, ela, então na idade de debutante, observava atenta os finalistas da prova de salto triplo.

Cecilia Acioli/Folhapress
Inglesa Rosemary Mula, 73, ajudará no recrutamento de voluntários
Inglesa Rosemary Mula, 73, ajudará no recrutamento de voluntários

Embora defendesse o título olímpico obtido em Helsinque-1952, o brasileiro não era visto como favorito.

"Muitos o consideravam velho", disse Rosemary, que havia se mudado poucos meses antes da Inglaterra para a Austrália com os pais.

No aquecimento, ela descobriu que aquele atleta, que despertava pouca atenção, era Adhemar. Trocaram palavras de encorajamento.

Com um salto de 16,35 m, novo recorde olímpico, Adhemar levou o ouro. Era o primeiro, e ainda único, brasileiro bicampeão consecutivamente de uma Olimpíada.

"Ele reconheceu o apoio e me deixou segurar a medalha", lembra ela.

Inspirada pelo atleta, Rosemary tentou ser atleta. Não conseguiu. Acabou tomando gosto pelos livros e se tornou professora. Casou-se e, em razão dos negócios do marido, acabou indo viver em Cingapura. "No fim dos anos 1970, houve uma convenção por lá. Quando reparei, mal pude acreditar. Era Adhemar."

"Eu te conheço?", ele me indagou. "Quando falei que era a menina de 1956, ele não acreditou. Mas após aquela emoção, não falamos mais."

Os caminhos voltaram a se cruzar nos Jogos de Sydney-2000. Em 1993, a cidade foi eleita sede e Rosemary se inscreveu para ser voluntária. Designada a guiar autoridades de comitês olímpicos, encontrou a delegação brasileira, que a pôs em contato com Adhemar.

"Eu o convidei para ficar na minha casa em Sydney. Convivemos intensamente, sem saber que ele morreria pouco depois", diz. Adhemar teve uma parada cardíaca em janeiro de 2001, aos 73 anos.

O brasileiro a presenteou com duas réplicas das medalhas olímpicas de ouro que conquistou e uma frase: "Ache um jeito de seguir no movimento olímpico".

Sempre como voluntária, em 2003 auxiliou o pequeno país de Kiribati a entrar no rol de afiliados do COI (Comitê Olímpico Internacional). Mais incrível, porém, foi o seu apoio à Rio-2016. Pela ligação com Adhemar, ela foi à reunião do COI em Copenhague que elegeu a cidade.

A partir desta quinta, ela ajudará no recrutamento de voluntários. "Tudo começou com um brasileiro com paixão pelo que fazia, Adhemar. Quero retribuir".

Editoria de arte/Folhapress

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