Folha de S. Paulo


Há muitas jogadoras indo embora, e isso preocupa, diz Jaqueline após título

O título do Grand Prix conquistado no Japão não fez a ponteira Jaqueline, 30, na equipe nacional há mais de uma década, esconder sua insatisfação com a atual fase do vôlei brasileiro.

Jaqueline não tem clube. Seu último foi o Osasco, em abril de 2013. E acredita que não terá –ao menos no Brasil– na próxima temporada.

A ponteira se ausentou das quadras a partir da metade de 2013, para conceber Arthur, seu primeiro filho com Murilo, do time masculino.

Após o parto, viu o mercado brasileiro fechado. Nenhuma equipe decidiu contratá-la por ela ter o grau máximo no ranqueamento, sete nacional –cada time pode ter só duas atletas com este nível.

Agora, Jaqueline e o restante da seleção se focam no Mundial da Itália, com início no final de setembro. "Queremos muito este título, mas não somos favoritas", disse a pernambucana à Folha, horas depois da vitória no Japão.

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Folha - Depois de uma temporada difícil para você, que terminou sem clube, este título parece vir em boa hora.
Jaqueline - Infelizmente, no Brasil eu estou tendo dificuldade de jogar em alguma equipe. Mas acho que tenho feito meu trabalho muito bem. Tenho foco na seleção.

Sua situação chega a prejudicar sua atuação pela seleção? É algo que lhe preocupa?
Dá meio que um desânimo saber que em meu país não tenho onde jogar. É vergonhoso, mas bola para frente, agora é seguir. Tenho que crescer nas dificuldades.

Para você, o nível do vôlei brasileiro, internamente, está muito atrás do apresentado pelas seleções nacionais?
Acho que precisa melhorar, com certeza. Há muitas jogadoras indo embora, e isso é preocupante. Daqui a dois anos teremos os Jogos Olímpicos. Espero que melhore, mas eu só espero...
No ano que vem eu espero ir embora com o Murilo, e aí são mais dois. É muito preocupante, mas eles fizeram por onde isso acontecer.

Este é um ano turbulento para o vôlei brasileiro, com várias denúncias envolvendo a gestão de Ary Graça, presidente da Confederação Brasileira de Vòlei. Estes fatos impactam a seleção de alguma maneira?
Acho que a gente faz nosso trabalho. Pensamos nesse campeonato, o planejamento da temporada. Sobre as dificuldades relativas ao que saiu na imprensa, nós não sabemos realmente o que aconteceu. Então, nem posso lhe falar muito concretamente.

Até pouco tempo atrás, o carro-chefe do vôlei nacional era o time masculino. Há alguns anos, vocês têm invertido esta tendência e vencido tudo. O que causou esta reviravolta?
É todo um projeto. Esta geração que veio é campeã, que se acostumou a ganhar título através dos anos. Treinamento, dedicação de cada jogadora, tudo conta. Diferentemente de outros países, no vôlei os brasileiros são muito determinados naquilo que querem fazer. Acredito muito no brasileiro, de não desistir nos momentos de dificuldades, e é isso que tem ocorrido com nossas seleções.

No último ciclo olímpico que culminou nos Jogos de Londres, a seleção feminina teve muitos altos e baixos. Este domínio atual, com favoritismo para o título mundial, não veio cedo demais?
Não, não somos favoritos a título mundial. As outras equipes querem jogar este peso nas nossas costas, mas favoritismo não existe. Até porque o Mundial é um outro campeonato. É lógico que é importante para nós.

Mas um título mundial inédito terá qual sensação?
É o campeonato que falta para esta geração. Certamente vai ser importantíssimo para o currículo.


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