Folha de S. Paulo


'Não quero mais jogar na Europa', diz zagueiro do Corinthians

Para Gil, 27, o chamado da seleção brasileira não é uma plataforma para voltar à Europa.

Convocado pela primeira vez na carreira, vai defender o Brasil contra Colômbia e Equador, em setembro. Ele sabe que estar na lista de Dunga significa viver sob os holofotes de times europeus.

"Eu não quero mais jogar na Europa. Estou bem no Corinthians. Prefiro ganhar um pouco menos e continuar feliz como estou", afirmou, em entrevista à Folha.

É reação inesperada no mundo do futebol. Mas agir diferente dos outros parece estar no sangue.

Após ter sido convocado, Gil chegou em casa na expectativa de dar a notícia para o filho Carlos, 4, que ele chama de "Gilzinho".

Joel Silva/Folhapress
O zagueiro Gil (esq.) comemora um gol pelo Corinthians no Campeonato Brasileiro
O zagueiro Gil (esq.) comemora um gol pelo Corinthians no Campeonato Brasileiro

"Ele não deu muita atenção", conta o zagueiro, sorrindo. "Não tem dimensão das coisas. Para ele, o Corinthians é mais importante".

Vestir a camisa amarela é mais um passo para chamar a atenção de outra pessoa. Um dos orgulhos do defensor por estar no clube paulista é ter enfim despertado a atenção do pai, Nelson José, 58.

Ele nunca havia dado muita bola para as partidas de Gil. Nem nas categorias de base, nem na profissionalização no Americano-RJ. Nem mesmo quando foi comprado pelo Valenciennes (FRA).

"Agora que estou no Corinthians, ele assiste tudo, vai ao estádio. Claro que fico feliz. Talvez ele achasse que minha carreira não ia dar em nada", especula, sem ter resposta definitiva.

Por via das dúvidas, após cada jogo, telefona para a casa dos pais, em Campos dos Goytacazes (232 km do Rio). Quer saber se a mãe, Elizabeth, e o pai viram tudo.

Gil tem tatuagens espalhadas pelo corpo. O salmo 91 no antebraço direito. A oração "Pai Nosso" nas costas. Também colocou na pele o nome da mãe, o do filho... Não o do seu Nelson, por enquanto.

NO HOTEL

O zagueiro da seleção rejeita a volta à Europa por traumas financeiros após passagem pelo Valenciennes, onde ficou entre 2011 e 2012. Em caso raro no futebol brasileiro, jura que nunca ficou sem salários.

"Cheguei lá em agosto de 2011. Em dezembro, queria ir embora. Houve promessas não cumpridas. Deixaram eu, minha mulher, meu filho e dez malas no quarto do hotel por dois meses", lembra.

Gil não quer correr o risco de viver isso de novo.


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