Folha de S. Paulo


Brasileiros admitem medo, mas dizem que não abandonaram time da Ucrânia

Sergey Dolzhenko - 13.fev.2013/Efe
O meia Douglas Costa (à direita) comemora gol pelo Shakhtar Donetsk na Liga dos Campeões da Europa
Douglas Costa (à direita) comemora gol pelo Shakhtar Donetsk na Liga dos Campeões da Europa

A violência no leste da Ucrânia é o motivo alegado por cinco jogadores brasileiros do Shakhtar Donetsk para não voltarem ao clube após treinos e amistosos de pré-temporada.

O atacante Dentinho, o zagueiro Ismaily, os meias Fred, Douglas Costa e Alex Teixeira, além do argentino Facundo Ferreyra, se recusaram a embarcar com o resto do time sábado (19), na França.

Donetsk fica no lado oriental do país, que vive conflitos separatistas, perto da fronteira com a Rússia. Quinta-feira (17) um avião da Malaysia Airlines, em voo civil, caiu no leste do país, sob suspeitas de ter sido derrubado por um míssil.

Em nota conjunta divulgada por sua assessoria de imprensa nesta segunda-feira (21), Dentinho, Douglas Costa e Alex Teixeira confessaram ter medo de retornar. E negaram estar deixando o Shakhtar, depois de o presidente do clube ameaçar os desertores.

Alexander Khudoteply - 2.jul.2011/AFP
O atacante Dentinho na apresentação ao Shakhtar
Dentinho na apresentação ao Shakhtar Donetsk

"Não temos nenhum problema com o clube. Sempre nos apresentamos em outras temporadas, dentro das datas, respeitando rigorosamente o que havia sido combinado com os dirigentes. Porém, desta vez, em virtude dos conflitos no país, estamos com medo e não queremos colocar em risco a vida dos nossos familiares e as nossas também", disse o ex-corintiano Dentinho.

"Não estou abandonando o clube. Estou com medo. Tudo o que a gente lê, vê ou ouve é de que a situação no país é bastante complicada. Não sabemos em quais condições podemos treinar e muito menos onde jogar. Para jogar precisamos viajar. Como vai ser nossa segurança? Não tenho nenhum problema no Shakhtar. Gosto do clube, das pessoas, da cidade, mas estou com medo de outras situações de conflito e eventualmente numa viagem, quando nos separarmos de nossos familiares, que aconteça algo pior", afirmou Douglas Costa, ex-Grêmio.

Alex Teixeira, revelado pelo Vasco, garantiu não estar pensando em transferência para outra equipe.

"A maior preocupação que temos é com a segurança de todos nós e de nossas famílias. Respeito a decisão daqueles que resolveram se apresentar. Porém, procuramos os dirigentes e pedimos uma posição do clube. Já sabemos que o aeroporto de Donetsk está fechado. Demos a sugestão para treinarmos fora do país até tudo se acalmar. Primeiro a oferta do clube foi de morarmos em Carcóvia, algumas horas depois nos disseram que a decisão era a de mudarmos para Kiev. Isso nos demonstrou muita insegurança com o planejamento", alegou.

Divulgação/FC Shakhtar Donetsk
Alex Teixeira em partida do Shakhtar
Alex Teixeira em partida do Shakhtar

"Neste momento, todos nós corremos risco de vida se estivermos na região. Conversamos com os dirigentes e nos propusemos a permanecer na Suíça para treinarmos enquanto essa situação seja resolvida. Queremos permanecer no clube só que precisamos ter uma condição de trabalho sem correr riscos", disse Douglas Costa.

"Em nenhum momento a nossa decisão em não nos apresentarmos, partiu de terceiros, procuradores, ou qualquer outra pessoa. Nossa decisão foi tomada em comum acordo exclusivamente com nossos familiares antes da nossa reunião em grupo com os brasileiros do time", assegurou Dentinho.

"É uma decisão individual. Como chefe de família penso em minha esposa e filhos e por dinheiro nenhum do mundo vou arriscar a vida deles", acrescentou o atacante. "Temos lido que as embaixadas dos Estados Unidos, Inglaterra, Suíça e também a do Brasil tem recomendado que as pessoas não viajem para a região".

LONGE DE CASA

O presidente do Shakhtar, Rinat Akhmetov, homem mais rico do país e um dos mais influentes, admitiu nesta segunda-feira que o time não jogará em casa as próximas partidas por causa dos riscos à segurança.

Atual pentacampeão nacional, o clube conta, além dos cinco atletas desertores, com mais oito brasileiros: o meia-atacante Bernard –que está em férias após defender a seleção na Copa do Mundo–, o volante Fernando, o lateral direito Ilsinho, o meia Marlos, os atacantes Luiz Adriano, atacante Wellington Nem e Taison e o auxiliar técnico Antônio Carlos Zago.

O atacante Eduardo da Silva, que defendeu a Croácia no Mundial, acaba de se transferir para o Flamengo.

Durante a crise política, em março, foram criados planos de fuga para profissionais de futebol e seus familiares deixarem a Ucrânia caso fosse necessário.


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