Folha de S. Paulo


Times da Série D encaram estrada para usar 'casa emprestada'

Campeão amazonense pela primeira vez no ano passado e vice nesta temporada, o Princesa do Solimões viu-se forçado a mandar seus jogos pela Série D na capital Manaus, a 80 km da sua cidade, Manacapuru.

Por causa do atraso na reforma do estádio municipal Gilberto Mestrinho, desde abril o time viaja não só para atuar como dono da casa, mas também para realizar treinos coletivos em campos oficiais.

"O pior não é nem a distância, mas o trânsito, por isso demora. São três viagens por semana para treinar em Manaus", lamentou o diretor de futebol Raphael Maddy. Em Manacapuru, a equipe alvirrubra limita-se a treinamentos físicos e de fundamentos num gramado da Polícia Militar.

As três categorias de base –sub-13, sub-17 e sub-19– deixaram de participar de competições devido à falta de estádio, alegou Maddy. Os garotos só treinam e fazem amistosos. Ficaria caro transportá-los para partidas em Manaus também.

Sem torcida na capital, o clube precisa ainda que seus seguidores viajem do interior.

Reprodução/Facebook/Princesa do Solimões Esporte Clube
Torcedores viajam de barco para ver jogo do Princesa do Solimões fora de casa, pelo Amazonense
Torcedores viajam de barco para ver jogo do Princesa do Solimões fora de casa, pelo Amazonense

A tabela da Série D do Campeonato Brasileiro, que começou neste sábado (19), anunciava as partidas do Princesa do Solimões para a Arena Amazônia, que sediou quatro confrontos da Copa do Mundo em junho. Porém o clube preferiu o Colina, com capacidade para dez mil espectadores, reformado pelo governo estadual para abrigar treinos de seleções e não usado por elas.

"A gente não descarta a Arena. Quando enfrentar um time com nome maior, pode ir lá", afirmou Maddy.

Em maio, pela Copa do Brasil, depois de eliminar o Brasiliense-DF, o Princesa do Solimões enfrentou o Santos na Arena Amazônia. Da renda de R$ 568.270, arrecadou R$ 260.894,99, ou seja, 45,9%. Menos do que os R$ 307.375,01 de despesas.

"É um absurdo. Contra um time sem muita expressão, vamos pagar para jogar", reclamou o diretor, prevendo prejuízo com bilheteria no estádio orçado em R$ 669,5 milhões e previsto para custar mais R$ 12 milhões por ano.

O clube amazonense, fundado em 1971, consome R$ 220 mil por mês, de acordo com Maddy. Ele calcula a folha salarial em R$ 180 mil.

Do elenco vitorioso no ano passado, 13 jogadores permanecem. Depois do título estadual, alguns receberam ajuda de custo enquanto eram liberados para defender outras equipes temporariamente.

Para a Série D, chegaram o treinador Charles Guerreiro –ex-volante e lateral direito do Flamengo– e o atacante Somália, 37, ex-Fluminense e São Caetano. O time estreia neste domingo, em visita ao amapaense Santos, no Zerão, em Macapá.

TIMES PEREGRINOS

Além do Princesa do Solimões, outros seis clubes tiveram problemas com estádios para a disputa da Série D.

O Batistão, reformado para receber treinamentos da seleção grega em Aracaju, voltou a ser fechado para obras. Por isso, o campeão sergipano Confiança atuará em Itabaiana, a mais de 50 km da capital.

Como não foi aprovado o estádio Chavinha –disponível para menos de 5.000 e sem separação de torcidas–, o sul-mato-grossense Itaporã percorrerá 16 km para mandar jogos em Dourados.

Arquirrivais, os gaúchos Brasil e Pelotas chamarão de casa Gravataí, a 280 km. O primeiro perdeu um mando de campo. O outro carece de laudo para atestar a segurança do seu estádio Boca do Lobo. Além da opção gravataiense, apenas os porto-alegrenses Beira-Rio e Arena do Grêmio e os sul-caxienses Centenário e Alfredo Jaconi estavam liberados por documentos técnicos.

O campeão paraense Remo cumprirá punição em Bragança, a mais de 200 km de Belém.

No Campeonato Baiano, o Jacuipense usou o estádio de Pituaçu, em Salvador, a mais de 180 km de Riachão do Jacuípe. Para a quarta divisão do Brasileiro, promoveu uma enquete no Facebook para torcedores decidirem entre jogos em Serrinha, a 53 km, ou Feira de Santana, a 77 km. Jogará no feirense Joia da Princesa.

Divulgação/Federação Paraense de Futebol
Time do Remo antes da final do Paraense contra o Paysandu, no Mangueirão
Time do Remo antes da final do Paraense contra o Paysandu, no Mangueirão

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