Folha de S. Paulo


Saretta busca 1ª vitória após retornar às quadras

No dia em que o nadador americano Michael Phelps retorna às piscinas, o tenista brasileiro Flavio Saretta tenta mais um passo em sua jornada volta às quadras.

Saretta, que foi o 44º do mundo, disputa nesta quinta-feira, às 19h, as quartas de final de duplas do Challenger de Santos. Ao lado de André Ghen, ele enfrenta João Souza, o Feijão, e André Sá e busca sua primeira vitória em seu retorno.

O paulista de americana encerrou a carreira em 2009 após uma série de contusões e de maneira discreta. E reconhece que faltou profissionalismo em determinados períodos da carreira.

"Parei de um modo sofrido. Nos últimos três ou quatro anos não sabia o que estava fazendo. Quando eu parei foi um alívio", conta.

Ele diz que ao pendurar a raquete procurou se livrar de tudo que lembrasse o tênis.

Ele conta que abriu o armário e pediu que dois amigos levassem tudo: roupas, raquetes e raqueteiras. Os troféus foram para a casa do pais. "Passei um ano depressivo em casa. Me incomodava sair pra rua e me identificarem como tenista."

Agora, ele já diz ter de novo "um canto do tênis" em casa.

Saretta, 33, disse estar curtindo muito a volta, apesar de ter que conciliar com outras atividades. "[Na semana passada] Depois do treino tive que ir ao banco. Era uma conta jurídica, não dava para fazer pela internet. Então saí correndo e voltei para jogar duplas. Que isso? Tenista não vai ao banco", brinca ele.

Saretta é comentarista da Bandsports e diz ter apoio da emissora na nova empreitada.

"Outro dia, treinei pela manhã e à tarde fui comentar o Torneio de Houston."

Outra novidade é o filho, Felipe, 9. "Ele era muito novo quando parei de jogar e foi uma das pessoas que consultei para a minha volta."

Saretta lembra de um episódio em quadra com o filho.

Em 2007, nas oitavas de final do Brasil Open, então disputado na Costa do Sauipe, ele enfrentava Gustavo Kuerten.

A torcida, como esperado, se colocou a favor de Guga, mas Saretta não esperava tanta animosidade. Como eliminou o grande ídolo do Brasil, foi bastante xingado.

"Tiveram que tirar o Felipe de lá. Ele era pequeno, mas acho que se lembra de alguma coisa", afirmou.

Ele venceu dois dos três jogos que disputou contra Guga e disse que durante a carreira ouviu muito duas frases: "Saretta é o mais talentoso brasileiro depois da era Guga" e "Saretta não gosta de treinar".

Diz que o fato de ser chamado de "novo Guga" não o atrapalhou e cita o fato de ter "herdado" contrato de patrocínio, quando o tricampeão de Roland Garros acertou um novo acordo com outra empresa.

Sobre treinar, Saretta diz que ninguém gosta de treinar. "Mas eu trabalhei bastante. Ninguém chega a top 50 sem treinar muito", afirmou.

Para ele, a comparação neste aspecto pode ter atrapalhado um pouco. "Vinha a Davis e tinha o Guga e o Fino [Fernando Meligeni], que eram doentes por treino e ficavam cinco horas treinando."

Segundo ele, o técnico João Zwetsch dizia para ele limitar as sessões em três horas.

"Ele dizia que no minuto seguinte após as três horas eu atrapalhava o treino de todo mundo. Mas isso é de cada um. Tem gente que precisa de cinco horas e outros menos."

Saretta afirma que Zwestch, atual capitão da Davis e grande incentivador de sua volta, também foi grande responsável por conseguir estabelecer metas em sua carreira.

"Ele falou vamos entrar no top 100. Fomos lá e entramos. Agora é top 50, conseguimos. Depois ele falou: 'Agora é top 20'. Daí eu espanei. 'João, meu sonho era top 50'", conta ele.

Diferentemente de Phelps, cuja volta às piscinas era dada como certa, Saretta voltou às quadras de maneira surpreendente.

Após um winner (bola vencedora), em um treino com amigos, ele brincou que disputaria o Brasil Open, que seria naquela semana.

Os amigos "botaram pilha", e Saretta comentou sobre sua intenção no Twitter, pedindo um convite.

Até a organização do torneio não sabia ser era piada ou sério, mas procurou o tenista.

"Perguntaram se eu queria um convite para o qualifying. Pedi meia hora para responder. Liguei para um amigo e ele falou: 'Tem que aceitar'."

Após um dia e meio de treino, o brasileiro perdeu do austríaco Philipp Oswald, 854º do mundo, por 6/2.

O placar se repetiu nos dois jogos seguintes, já na chave principal dos challengers de São Paulo e Santos.

Mas depois de cinco semanas de treino os adversários eram mais qualificados: o argentino Diego Sebastian Schwartzman, 122º do mundo, e o holandês Thiemo De Bakker, 134º.

Nas duplas, também caiu na estreia em São Paulo e avançou em Santos por W.O.


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