Folha de S. Paulo


Oposição desiste, e Aidar é eleito presidente do São Paulo

O advogado Kalil Rocha Abdalla, 72, desistiu da eleição à presidência do São Paulo, na noite desta quarta-feira. Assim, o situacionista Carlos Miguel Aidar, 67, deve ser oficializado presidente do clube até abril de 2017 em pelito que irá começar oficialmente às 19h.

Como não deveria ter votos suficientes para vencer, Abdalla abdicou do pleito para impedir a votação da obra de cobertura do Morumbi.

A situação havia incluído na pauta da eleição desta quarta-feira a votação da reforma do Morumbi, que inclui as construções da cobertura, de uma miniarena dentro do estádio e de dois prédios de garagem na parte social.

Para executar a obra orçada em R$ 460 milhões, o São Paulo iria conceder o direito de exploração da miniarena à construtora.

Como é uma obra que envolve um bem patrimonial, a votação precisa de quórum de 75%, o que hoje equivaleria a 175 conselheiros presentes. O número total é de 234 conselheiros. Na tentativa anterior de votar a obra, em dezembro, não houve quórum.

A oposição é contra a votação da obra junto com o pleito presidencial. Analisou que foi uma medida oportunista para aproveitar o quórum. Além disso, alega que o contrato das obras não foi suficientemente esclarecido aos conselheiros. Deseja debater e realizar a votação em outra data.

Agora, a situação tem de marcar uma data para fazer a votação da reforma.

Depois da desistência, Abdalla fez um pronunciamento.

"Se houvesse duas listas para votação [uma para presidente e outra para o projeto], não teria problema. Meu grupo não concorda com a aprovação daquele maldito projeto e não iremos entrar [no salão nobre] para votar", disse Abdalla.

"Com essa votação, eles querem que a gente assine um cheque em branco", afirmou em seguida, ao criticar o contrato da obra do Morumbi.

"Prefiro deixar de concorrer ao pleito a disputar e expor o São Paulo aos riscos de um projeto que não foi suficientemente discutido. Saio da disputa de cabeça erguida", acrescentou.

NOVO PRESIDENTE

Aidar irá substituir Juvenal Juvêncio, que ficou no cargo por oito anos consecutivos.

A promessa é fazer uma gestão mais decentralizada, dividindo o comando do clube com outros diretores.

No futebol, a única certeza é que Muricy Ramalho será mantido como técnico. Reforços devem chegar, pois Aidar estipulou como meta a briga pelo título do Brasileiro.

Mas os diretores não devem continuar. Hoje, o departamento de futebol conta com João Paulo de Jesus Lopes, vice-presidente, e Roberto Moreno, diretor. Além de Gustavo Oliveira, gerente e único remunerado. Ele pode ser o único a permanecer do trio.

LEIA A ÍNTEGRA DA CARTA DIVULGADA POR ABDALLA

Os conselheiros vitalícios e eleitos da legenda #SPFCforte, irmanados com o subscritor desta carta, cientes de sua responsabilidades na defesa dos superiores interesses do São Paulo Futebol Clube, se declaram inconformados com uma só convocação, inserindo a matéria extraordinária na ordinária, com pauta e lista única de presença na reunião do Egrégio Conselho Deliberativo do São Paulo Futebol Clube. Repudiam a forma pela qual estão tentando aprovar, não um contrato ou um projeto, mas um mero MODELO JURÍDICO E FINANCEIRO de cobertura "do Estádio do Morumbi, Arena Multiuso e Estacionamentos", ressalvando para deliberação posterior a ratificação quanto à escolha da construtora a ser contratada para a realização das obras. Em um ato único, pretendem aproveitar a lista de presença da reunião que elegerá o próximo presidente e, com isso, obter o quórum qualificado de 75%, exigido para que ocorra a votação de insti tuição de hipoteca do Morumbi, conforme prevê o Estatuto Social. Uma manobra ardilosa ao pleito democrático e que jamais aconteceu na história do São Paulo Futebol Clube.

Jamais, em toda a minha vida de advogado, com 50 longos anos de atividade, vi tamanha aberração, ou seja, a aprovação de um modelo de negócio que comprometerá nosso patrimônio por longos anos tendo principalmente o Estádio do Morumbi como garantia. Apelamos ao presidente do Conselho Deliberativo, no intuito de tentar separar as votações, mas nos foi negado.

O movimento #SPFCforte é totalmente favorável à modernização do Morumbi, mas queremos que a aprovação desse modelo aconteça com responsabilidade, inteligência, criatividade e promovendo o amplo debate de ideias preservando a integridade de nosso patrimônio. Assim foi construído o Estádio Cícero Pompeu de Toledo, resultado do trabalho de várias administrações, por Presidentes verdadeiramente preocupados com a solidez do clube, alheios à glória momentânea e efêmera.

Mesmo quando a estrutura do Estádio ficou comprometida, inclusive interditado, os recursos para a execução das obras, que exigiu avançado trabalho de engenharia, foram conseguidos sem comprometimento do nosso patrimônio e sem recorrer a fundos e sócios que poderão comprometer o futuro do São Paulo Futebol Clube, como os descritos no modelo de negócio. Outras instalações foram edificadas com investimentos próprios, entre elas, o Centro de Treinamento da Barra Funda, cujos trabalhos passaram por várias gestões e o CFA Presidente Laudo Natel, em Cotia. Duas unidades reconhecidas como as melhores estruturas esportivas do país.

Ainda em relação ao modelo explicitado no edital de convocação de dezembro de 2013 (modelo de negócio para a cobertura), reafirmo aqui, a boa vontade deste grupo que constituiu três comissões de análise. Por falta de informações e dados técnicos insuficientes não foi possível concluir os relatórios.

Assim, os grandes tricolores desse grupo se uniram para a preservação da grandeza, dignidade e da independência do São Paulo. Não podemos permitir, nem pactuar que não tenhamos a possibilidade de uma análise meticulosa, responsável e o direito ao amplo debate desta questão. A convocação única tem por objetivo atingir o quórum qualificado pela relevância do tema.

E para não se permitir a concretização dessa manobra, já que nossos adversários se mostraram irredutíveis ao diálogo e ao bom senso de separar as votações, prefiro comunicar não só à coletividade são-paulina, mas à toda a população esportiva deste País, que optei em NÃO PARTICIPAR desta eleição.

Desta forma, quero impedir a efetivação de novo golpe engendrado pelas mesmas pessoas que há três anos atrás, promoveram a alteração do estatuto que tornou viável o terceiro mandato daquele que os torcedores de nossa equipe sonham em ver longe de nosso clube.

Prefiro renunciar a disputa a expor o São Paulo aos riscos de um projeto que não foi suficientemente discutido. Saio da disputa de cabeça erguida com a certeza de que dessa maneira, fortalecemos a oposição evitando a concretização de outra farsa.

A todos os torcedores, sócios e companheiros, minhas cordiais saudações tricolores.

Kalil Rocha Abdalla


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