Folha de S. Paulo


Manchester United encara gregos para evitar crise econômica

A experiência para o Manchester United sem Alex Ferguson tem sido traumática dentro de campo e pode ter consequências financeiras. Nesta quarta-feira, se não se classificar para as quartas de final da Liga dos Campeões da Europa, a queda de receitas vai se tornar realidade.

Com o técnico David Moyes no comando, o time ocupa a modesta sétima posição no Campeonato Inglês. Na última temporada de Ferguson (que permaneceu como técnico entre 1986 e 2013), foi campeão. A única chance real de estar no principal torneio europeu na próxima temporada é ganhá-lo neste ano.

Nesta quarta-feira, em casa, o Manchester United recebe o Olympiacos, da Grécia, pelas oitavas de final. No primeiro jogo, na Grécia, o time inglês perdeu por 2 a 0.

"Dirigir a equipe está sendo mais difícil do que eu esperava. Muito mais", reconheceu Moyes.

No último sábado, o Manchester United perdeu por 3 a 0, em Old Trafford, para o Liverpool, o maior rival. Apesar das dificuldades, a torcida continua apoiando. Moyes vai precisar dessa ajuda entre os diretores, que não acreditavam que a transição seria tão difícil. Ficar fora da Liga dos Campeões será inesperado golpe nas finanças.

"A maior perda é em direitos de TV. Na temporada 2012-2013, o clube faturou 31,3 milhões de libras [R$ 123 milhões] com as transmissões das partidas continentais. Foi a terceira fonte de receita mais importante, depois dos direitos de televisionamento do campeonato nacional e o contrato com a Nike", explica Andy Green, analista financeiro e estudioso das finanças do Manchester United.

Deve-se levar em conta também a possível queda de receita nos dias de jogos em Old Trafford (ingressos, venda de produtos...) e as premiações da Uefa. Os valores crescem de acordo com o avanço do time. Na primeira fase, a entidade paga cerca de US$ 900 mil (R$ 2,1 milhões) por partida para cada participante.

Há outro problema também. O consenso de que o elenco precisa de reforços pode ser sensivelmente prejudicado pela ausência na Liga dos Campeões.

"Há o problema financeiro, claro. Mas não se pode esquecer também o efeito que isso terá em patrocinadores e o impacto moral nos torcedores e jogadores. Pode afetar também a capacidade de atrair nomes famosos para a próxima temporada porque os reforços mais caros querem jogar na Champions League. Isso pode fazer com que as contratações sejam mais caras do que normalmente seriam", explicou à Folha Duncan Drasdo, chefe-executivo da Must (Manchester United Supporters Trust).

Embora os números não tenham sido divulgados, o clube tem contratos de marketing atrelados a resultados dentro de campo. São 14 empresas que o patrocinam diretamente. Possui acordos com outras dez companhias que exploram a marca do United em mercados específicos, como o asiático, por exemplo.

Darren Staples/Reuters
O técnico David Moyes grita durante uma partida do Manchester United pelo Campeonato Inglês
O técnico David Moyes grita durante uma partida do Manchester United pelo Campeonato Inglês

Não é o caso do recém-assinado contrato com a Chevrolet. A montadora de veículos será, a partir de agosto deste ano, a patrocinadora do uniforme. O valor anual será de 53 milhões de libras (R$ 208 milhões). Para compensar possíveis perdas, os Glazers, família dona do clube, esperam reformar o contrato com o fornecedor de material esportivo. Esperam receber por ano 65 milhões de libras (R$ 255 milhões).

O patrocínio atual da Nike rende 23,5 milhões de libras (R$ 92 milhões). Nike, Puma e Adidas estão interessadas.

Em parte, é com esses recursos que a reformulação no elenco será bancada para 2014-2015. Especula-se que Moyes terá mais de 100 milhões de libras (R$ 393 milhões) para investir em novos jogadores.

"O dinheiro estará disponível porque não há outra alternativa. Apesar de os Glazers terem gerado dívida para o clube, os lucros eram contínuos porque Alex Ferguson montou uma máquina bem azeitada, que conseguia resultados sem os mesmos investimentos dos concorrentes. Com Moyes, isso mudou. O Manchester United terá de gastar tanto ou mais que as outras equipes", conclui Drasdo.

Os Glazers concluíram a negociação para comprar o Manchester United em 2005. Setores da torcida consideram ter sido um grande golpe. Para financiar os 600 milhões de libras da transação, a família fez empréstimos bancários. Ofereceu bens da agremiação como garantias de pagamento. Até hoje, não colocaram um centavo do clube, que teve de arrecadar recursos para se autofinanciar.

Uma sucessão de fracassos dentro de campo e a falha em conquistar títulos, recursos e classificações para a Liga dos Campeões da Europa pode mudar isso tudo. A Must considera que, até hoje, os Glazers não venderam o Manchester United porque inflacionaram demais o preço. Pediram 2 bilhões de libras (R$ 7,9 bilhões).

"Eles terão de se acostumar à ideia de que os custos para gerir o Manchester United e mantê-lo vencedor vão aumentar sensivelmente. Isso vai ter impacto no lucro. Eles claramente não entendem como as finanças de um clube de futebol funcionam. Alex Ferguson era o fiador deles. David Moyes não é Ferguson", afirmou Drasdo.

Os torcedores também já perceberam isso.


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