Folha de S. Paulo


Casos de racismo devem ser severamente punidos, diz Arouca

O volante Arouca, do Santos, lamentou as ofensas racistas que sofreu logo após a vitória sobre o Mogi Mirim, por 5 a 2, na noite de quinta-feira, pelo Campeonato Paulista.

Em nota publicada por sua assessoria de imprensa na manhã desta sexta, Arouca pediu punição para os autores de ofensas racistas no futebol.

"Espero, sinceramente, que casos como esse sejam severamente punidos, pois, enquanto isso não acontecer, nada vai mudar. A impunidade e a conivência das autoridades com as pessoas que fazem esse tipo de coisa são tão graves quanto os próprios atos em si", disse o volante.

Danilo Verpa/Folhapress
O volante Arouca durante uma partida do Santos pelo Campeonato Paulista
O volante Arouca durante uma partida do Santos pelo Campeonato Paulista

Enquanto concedia entrevista no campo, depois da vitória do Santos, Arouca foi xingado de macaco por três torcedores, segundo relato dos repórteres de rádio.

O jogador ficou desconcertado e não conseguiu concluir a resposta sobre a sua atuação na partida em Mogi Mirim. Ele foi o autor do quarto gol do seu time.

Em entrevista coletiva, o técnico do Santos, Oswaldo de Oliveira, não quis comentar o ocorrido, dizendo que a melhor resposta que ele poderia dar era o seu silêncio.

Após a entrevista, Oswaldo, em conversa informal com os jornalistas, defendeu que os dirigentes do Santos levem o caso à Federação Paulista de Futebol.

Nenhum dirigente do Santos quis falar sobre o assunto. O árbitro da partida, Vinicius Gonçalves Araújo, disse que não ouviu o xingamento e por isso não iria relatar na súmula.

VEJA NA ÍNTEGRA A NOTA DE AROUCA

"Na saída do jogo desta quinta-feira, contra o Mogi Mirim, fui alvo de insultos racistas de um torcedor do time adversário. É lamentável e inaceitável que ainda haja espaço para esse tipo de coisa hoje em dia. Isso só mostra que o ser humano ainda tem muito a evoluir e a crescer, que não estamos nem perto de um mundo que viva a harmonia entre as pessoas e todas as suas diferenças.

Tenho muito orgulho das minhas origens africanas, que foi o que o sujeito tentou usar para me ofender, dizendo que eu deveria procurar alguma seleção de lá para jogar. Dando a entender que um negro igual a mim não serve para defender a seleção brasileira. Como se algumas das páginas mais bonitas da história da nossa seleção não tivessem sido escritas por jogadores como Leônidas, Romário e pelo Rei Pelé, também negros. Não ouvi os gritos de 'macaco' que alguns repórteres disseram ouvir, mas, caso tenha realmente acontecido, é ainda mais triste.

Eu sei muito bem de onde venho e de toda a minha luta para chegar onde cheguei. Por isso, sentir na pele o que aconteceu comigo hoje - logo depois do que fizeram com o Tinga outro dia e também do caso do juiz no Rio Grande do Sul - me deixa muito decepcionado. Acabou com a alegria pela boa atuação do nosso time, pelo belo gol que fiz, ou seja, pelo que deveria ser a essência do esporte.

O futebol é um espelho da nossa realidade, e isso não se resume apenas a xingamentos racistas. Continuam matando e morrendo por torcerem por um time diferente do outro. Espero, sinceramente, que casos como esse sejam severamente punidos, pois, enquanto isso não acontecer, nada vai mudar. A impunidade e a conivência das autoridades com as pessoas que fazem esse tipo de coisa são tão graves quanto os próprios atos em si. Somente discursos e promessas não resolvem a falta de educação e de humanidade de alguns".


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