Folha de S. Paulo


Melhor pedir dinheiro para o povo do que ouvir empresários, diz Maurren

Maurren Maggi não quer parar. Campeã olímpica em Pequim-2008, no salto em distância, ela não treina há quatro meses e já ameaçou se aposentar das pistas algumas vezes desde então. A justificativa da atleta, que completa 38 anos em junho, é a falta de patrocínio desde janeiro de 2013.

Ela é a única mulher do atletismo brasileiro a ter um ouro olímpico até hoje.

Do governo federal recebeu, no mês passado, a última das 12 parcelas de R$ 3.100 do Bolsa Atleta a que tinha direito devido à participação na Olimpíada de Londres, em 2012, na qual não se classificou para as finais.

Da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), patrocinada pela Caixa, ainda recebe apoio financeiro mensal. O valor não é divulgado. Mesmo assim, desde sexta-feira, ela pede ajuda em um site de financiamento coletivo.

Na vaquinha, é possível contribuir a partir de R$ 10 para a atleta treinar durante os próximos cem dias. Até o final de sexta-feira, a campanha que ainda vai durar 42 dias já tinha arrecadado R$ 7.000.

"Estava pagando para ficar na pista. É injusto ter que gastar o dinheiro que eu havia guardado. Seria um mau exemplo para os outros atletas", afirmou à Folha.

"Eu podia virar uma dondoca, mas não quero. Melhor pedir dinheiro para o povo do que ouvir promessas de empresários", disse.

Ela não sabe exatamente o quanto tem gasto nos últimos meses, mas afirma que "atleta com ouro olímpico é caro". Maurren se refere a uma equipe de apoio de alto nível, que inclui técnico, fisioterapeuta, nutricionista, entre outros profissionais.

O último patrocínio dela foi da Nestlé, até o fim de 2012, quando competia pelo São Paulo. Logo o contrato com a empresa acabou, o clube pelo qual torce a deixou.

Em seguida vieram lesões no quadril, tornozelo e coxa. Em 2013, quando foi bancada pelo Comitê Olímpico Brasileiro e pela CBAt, ela foi apenas a quinta melhor saltadora no ranking nacional.

Segundo o técnico da seleção Nélio Moura, o plano para Maurren seria voltar a treinar neste ano para competir apenas em 2015 e 2016.

O objetivo dela é conquistar o tetracampeonato nos Jogos Pan-Americanos em Toronto, em 2015, e se aposentar com o que chama de "cereja do bolo": na Olimpíada do Rio, aos 40 anos.

"Quero continuar no alto nível. Não posso aceitar [patrocínio de] uma empresa por qualquer valor", diz Maurren. Hoje, ela recebe por eventos e palestras.

E se a vaquinha fracassar? Nesse caso, ela pretende se manter no atletismo, mas em atividades fora das pistas.

Franck Fife - 7.ago.2012/AFP
A saltadora Maurren Maggi durante os Jogos Olímpicos de Londres, em 2012
A saltadora Maurren Maggi durante os Jogos Olímpicos de Londres, em 2012

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