Folha de S. Paulo


Eu não jogaria no Fluminense de jeito nenhum, diz Héverton

Héverton, 28, está triste. Mas este não é o único sentimento dele no momento.

Na casa dos pais, em Brasília, onde vai passar o Natal, o pivô involuntário do imbróglio que, por enquanto, leva a Portuguesa à Série B do Campeonato Brasileiro de 2014, também está indignado.

"É um absurdo o que estão fazendo com a Portuguesa", diz o meia, que tem contrato com o clube rubro-verde até o fim deste ano e que jogou por 12 minutos, suspenso, contra o Grêmio, na última rodada do Nacional, sem saber.

Julgada, a Portuguesa, que havia terminado o Brasileiro em 12ª, perdeu quatro pontos e foi rebaixada.

Com isso, o Fluminense, que havia caído, se salvou.

Rivaldo Gomes - 11.jan.2013/Folhapress
O meia-atacante Héverton durante treino da Portuguesa; jogador está de férias em Brasília
O meia Héverton (ao centro) durante treinamento da Portuguesa

A indignação do meia o fez tomar uma decisão: "No Fluminense, eu não jogo de jeito nenhum. Eu tenho ética", brada o jogador, contra o clube que está se beneficiando da queda da Lusa.

Héverton não quer falar muito. Teme prejudicar ainda mais a Portuguesa. Mas não consegue se conter.

Em entrevista à Folha, o jogador conta que o clube lhe deve cerca de R$ 500 mil. Mas que, mesmo assim, quer ficar na Lusa. E dispara contra a decisão do STJD: "Deve ter mais coisas por trás dessa decisão. Só pode", diz.

*

Folha - Você se sente culpado pelo que está acontecendo à Portuguesa?
Héverton - Não. Eu não tinha ideia de que estava suspenso, é óbvio. Fui para a concentração normalmente, ninguém me disse nada. Acabei sendo o personagem principal sem ter culpa nenhuma. Imagine se eu entraria em campo se soubesse. Ainda mais porque só joguei por 12 minutos.

Qual o seu sentimento em relação ao que está acontecendo?
Estou indignado. Essa decisão é um desrespeito com a Portuguesa. Estou no clube há cinco anos e me considero um torcedor. Sofro junto com a torcida. Estão desrespeitando o futebol brasileiro.

Você tem sido xingado por torcedores da Lusa?
Ao contrário, tenho recebido apoio pelas redes sociais. Minha família e meus amigos também me ajudam. O Souza, meu melhor amigo na Lusa, está me apoiando. Vim para a casa dos meus pais, para me afastar um pouco, aqui em Brasília. Mas todo mundo só fala disso.

Você gostaria de permanecer na Portuguesa em 2014?
E por que não? Eu quero receber a dívida que o clube tem comigo, é claro. Meu contrato se encerra no fim do ano, tenho propostas do Brasil e de clubes do Oriente Médio, também. Mas, independentemente disso, quero ficar. Eu gosto da Portuguesa. E acredito que o rebaixamento vai ser revertido [no julgamento pelo pleno do STJD, no próximo dia 27]. Mas, mesmo que não seja, eu quero ficar e jogar a Série B.

E no Fluminense? Você jogaria?
Não. No Fluminense, eu não jogo de jeito nenhum. Eu tenho ética e não concordo com algumas questões que dizem respeito ao clube.

Algum dirigente da Portuguesa procurou você após a confusão ou para falar de renovação?
Não. Mas tudo bem. Se eu não ficar, a Portuguesa vai seguir sendo grande. É o que dizem: os jogadores passam, o clube fica. E é isso que me deixa mais nervoso: um clube como a Portuguesa, com uma torcida tão apaixonada, ter de passar por uma situação injusta como essa.

Rubens Cavallari - 8.dez.2013/Folhapress
O meia Héverton (à direita), da Lusa, depois da partida contra o Grêmio no Canindé
O meia Héverton (à direita), da Lusa, depois da partida contra o Grêmio no Canindé

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