Folha de S. Paulo


Carregada de contratempos, passeio da tocha olímpica tem de viagem ao espaço até morte

Uma história com viagens ao espaço e de camelo, pequeno incêndio e até morte. Se a tocha da Olimpíada de Inverno da Rússia falasse, ela teria grandes histórias para contar mesmo tendo ainda um mês e meio de revezamento pela frente.

A tocha começou a caminhar por território russo em 6 de outubro e vai até o dia 7 de fevereiro, quando começarão os Jogos Olímpicos de Sochi, que vêm ganhando mais destaque por atrasos, estouros no orçamento e críticas sobre questões como a proibição da maioria dos protestos e o tratamento dado aos imigrantes que trabalham na construção das instalações do evento e aos homossexuais na Rússia.

A caminhada espacial promovida em novembro foi uma vitrine para os Jogos, a primeira Olimpíada que a Rússia sediará desde a era soviética e um evento politicamente importante para o presidente Vladimir Putin, que está no poder há quase 14 anos.

Desde o seu primeiro dia, o objeto foi carregado por centenas de pessoas. De desconhecidos a personalidades do país. Já foi para baixo da água, andou de trator de neve, de camelo e foi até o espaço.

A chama já apagou dezena de vezes desde que Putin deu início ao revezamento na Praça Vermelha.

De acordo com a jornalista Yulia Latynina, que vem acompanhando a trajetória da tocha, o fogo se extinguiu pelo menos 44 vezes. A peça foi fabricada numa fábrica da Sibéria que produz submarinos que lançam mísseis balísticos.

"Uma tocha é bem mais simples do que um míssil - é um grande isqueiro de gás", disse Latynina à rádio Ekho Moskvy. "Pergunta: os nossos mísseis voam do mesmo modo que as tochas queimam?".

Enfim, o revezamento de 4 meses e 65 mil km da tocha russa tem sido assolado por contratempos. O último deles, o pior.

MORTE

Na última segunda-feira, porém, o revezamento da tocha causou sua primeira grande tragédia.

Um homem morreu de ataque cardíaco após carregar a tocha olímpica.

Vadim Gorbenko, um professor de educação física e técnico de luta greco-romana de 73 anos, sentiu-se mal após caminhar 150 metros com a tocha em sua cidade natal de Kurgan, no oeste da Sibéria, disse o porta-voz para o revezamento da tocha de Sochi 2014, Roman Osin.

"Ele retornou ao ponto de encontro e foi fotografado, então disse que não estava se sentindo bem e foi levado ao hospital, mas os médicos não puderam salvá-lo", disse, por telefone, Osin, que viaja acompanhando o revezamento. "Expressamos nossas mais profundas condolências aos seus entes queridos."

Osin disse que Gorbenko, treinador de lutadores russos campeões e que recebeu honras de Estado, já havia sofrido dois ataques cardíacos no passado. Ele estava consciente ao ser levado para o hospital e falou com o filho antes de morrer.

NO ESPAÇO

Em novembro, dois cosmonautas russos levaram a tocha olímpica para o espaço aberto pela primeira vez.

Segurando a tocha de prata e vermelho com seu traje espacial, Oleg Kotov entrou através de uma escotilha e saiu da Estação Espacial Internacional cerca de 200 milhas (320 quilômetros) acima da Terra, onde ele a agitou triunfante.

Ele entregou a tocha para Sergei Ryazansky e eles se revezavam posando com ela na gravidade zero da estação a escuridão do espaço exterior e a esfera azul e branco da Terra como pano de fundo.

As imagens, a maioria tirada de câmeras montadas em capacetes traje espacial dos cosmonautas, foram transmitidas ao vivo no canal da web da agência espacial da Nasa e da televisão estatal russa.

A tripulação de três homens russos, americanos e japoneses levaram a tocha no foguete Soyuz a partir da base de lançamento de Baikonur, no Cazaquistão, na quinta-feira, elevando o número de tripulantes a bordo da estação para nove.

INCENDIADO

No final de novembro, as roupas de um carregador russo pegaram fogo esta semana enquanto ele carregava a chama olímpica numa cidade siberiana.

Um clipe divulgado no YouTube pelo site russo Lifenews mostra o ex-atleta de competições no gelo Pyotr Makarchuk desfilando com a tocha na cidade de Abakan quando chamas de repente aparecem em sua jaqueta, no ombro esquerdo e uma parte de cima do braço.

As pessoas da escolta apagaram rapidamente o fogo, e Makarchuk não ficou ferido, disse Roman Osin, porta-voz do revezamento da tocha para os Jogos de Sochi 2014, na Rússia.

As chamas foram provocadas por gotas de gás liquefeito que caíram na jaqueta do atleta, disse Osin, que presenciou o incidente.

Com informações da Reuters


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