Folha de S. Paulo


Brasil não está preparado para um espetáculo futebolístico, diz pesquisadora

A briga entre torcedores de Atlético-PR e Vasco, no domingo, em Joinville (SC), "só mostra o quanto o Brasil está muito distante de estar preparado para um espetáculo futebolístico". A opinião é de Heloísa Reis, docente da Unicamp, pesquisadora e estudiosa do comportamento das torcidas em estádios de futebol.

Heloísa disse ainda que a briga é mais um sinal alarmante para a segurança dos torcedores na Copa do Mundo de 2014. "Eu gostaria de ser otimista e contar diferente. Mas é temerário".

editoria de Arte / Folhapress

Três torcedores do Vasco e três do Atlético-PR foram detidos. A polícia procura outros envolvidos. Quatro foram levados às pressas ao hospital. O caso repercutiu até mesmo no exterior.

O esquema de segurança adotado no jogo foi feito por seguranças privados e estava de acordo com o padrão adotado na Arena Joinville, segundo o comandante do 8º Batalhão de Polícia Militar de Joinville, Adílson Moreira.

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Folha - A presença da PM dentro do estádio poderia ter evitado a briga?
Heloísa Reis - Prever se poderia ser evitada ou não, eu acho que é uma previsão que a gente não pode fazer. Mas se nem a segurança pública conseguiu ainda fazer um trabalho de excelência no futebol brasileiro a ponto de ter uma prevenção e uma intervenção sem excesso de repressão, o que a gente vai poder esperar de uma segurança privada? O episódio só mostra o quanto o Brasil está muito distante de estar preparado para um espetáculo futebolístico.

Para um jogo como aquele, era preciso um contingente maior de seguranças?
A gente tem que saber avaliar melhor o que é um jogo de risco e, nesse caso, não houve essa avaliação, o que é um absurdo. Era um jogo com possibilidade de rebaixamento, de altíssimo risco. Deveria ter sido feito uma preparação mais adequada.

A violência em campos do Brasil é vandalismo ou reflexo dos problemas sociais do país?
Quando a gente resume a violência no Brasil, todo mundo fala em vandalismo, vagabundos, marginais... Mas a gente tem que entender essa questão. O torcedor vândalo, não é só vândalo. É alguém que quer se reafirmar na sociedade pela violência, no caso são homens, que por uma maturidade específica, vão se expressar por meio da força, da desordem sobre o outro e pela luta física. Como a sociedade é passiva da sua educação e da sua ação, não compreende que existem pessoas na sociedade, não só no Brasil, que gostam de violência, que se divertem com isso, têm prazer com isso. E essas pessoas só encontraram o futebol, porque o futebol permitiu usar essa violência.

A segurança na Copa do Mundo é um caso alarmante para o Brasil?
Sem dúvida. Eu gostaria de ser otimista e contar diferente. A Copa do Mundo não tem nada a ver em questões de risco, com o Campeonato Brasileiro e campeonatos regionais. Mas vai ter em torno da Copa situações que vai ser necessário um preparo melhor do que o que a gente tem hoje. O tipo de público da Copa diminui muito as possibilidades de um episódio desse. Acredito que a gente não vá ver isso. Mas é temerário.

O que o Brasil precisa fazer para se prevenir desses torcedores violentos durante a Copa?
Muita coisa. Há várias questões, como melhorar a educação do nosso povo, melhorar a preparação da equipe de segurança, dos comandantes, como compreender melhor o que é esse torcedor violento que vai para o estádio.

A polícia do Brasil abusa da violência para conter esses torcedores?
Para diminuir a violência no futebol, você tem que ter uma polícia que seja fundada na prevenção e não na repressão. Para que repressão? Sobre o jogo de domingo, se tivesse 30 policiais militares lá dentro do estádio, será que a briga teria acontecido? Pode ser que sim. O trabalho de prevenção aqui no Brasil é muito pouco sério.

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