Folha de S. Paulo


Esgrima do Brasil muda regra de convocação e desagrada atletas

A convocação de atletas para a seleção de esgrima vai ter novas regras em 2014. A confederação brasileira já informou federações e clubes que o ranking nacional dará vaga apenas aos dois melhores de cada gênero (masculino e feminino) e arma (espada, florete e sabre).

Atualmente, os principais campeonatos internacionais limitam a participação a quatro atletas por país. E o Brasil escalava todos pelo ranking. Para 2014, a nova regra diz que o terceiro e o quarto esgrimista serão chamados pelo técnico chefe da seleção, o italiano Pierluigi Chicca.

Essa mudança no sistema de convocação incomodou alguns atletas, preocupados com o critério subjetivo.

Um trecho do documento distribuído pela confederação chamou a atenção de esgrimistas. O texto diz que "em caráter excepcional (...) poderão também ser substituídos os atletas que estiverem na primeira a segunda colocação do ranking nacional". Os motivos podem ser técnico, disciplinar ou físico.

Atilla Kisbenedek/AFP
Foto de múltipla exposição do Mundial de esgrima, em Budapeste, na Hungria
Foto de múltipla exposição do Mundial de esgrima, em Budapeste, na Hungria

Quem tomou a frente das reclamações foi a Associação Brasileira de Esgrimistas (ABE), fundada em 2008 e que conta com os principais atletas do país na diretoria. Procurados pela reportagem da Folha, os esgrimistas contrários à nova regra não quiseram se expor.

A presidente da ABE, a ex-esgrimista olímpica Maria Júlia Herklotz, enviou ofício para a confederação cobrando obrigatoriedade de convocação por critérios técnicos.

A associação também realizou uma enquete em seu site. Na consulta, metade dos 54 esgrimistas disseram que a seleção deve ser formada exclusivamente pelo ranking.

"Queremos discutir deliberações que são feitas a portas fechadas", disse Maria Júlia Herklotz. O Brasil tem cerca de 2.000 praticantes e 600 atletas inscritos na confederação.

O esporte está no programa olímpico desde os primeiros Jogos, disputados em Atenas (GRE), em 1896.

O treinador chefe da seleção brasileira discorda da ABE. Para Pierluigi Chicca, alguns atletas, apenas pela experiência, ficam entre os primeiros do ranking, mas não conseguem bons resultado no exterior.

"Acreditamos que seja melhor procurar entre os jovens possíveis talentos, para terem resultados melhores no futuro", afirmou o italiano.

Segundo Chicca, atletas que criticam as novas regras querem apenas estar seguros de quem vão continuar recebendo as bolsas a que têm direito. O ranking é utilizado para a distribuição de benefícios e patrocínios vindos do governo federal.

"Os que são realmente fortes não deveriam ser inseguros, pois não teriam problemas em demonstrar as reais capacidades em competições no exterior. E não resultados aqui no Brasil, onde o nível das competições é muito baixo, infelizmente", disse.

A confederação de esgrima do país também vai trazer atletas do exterior, todos com dupla cidadania, para disputar vaga na equipe nacional: o francês Ghislain Perrier, no florete, a americana Katherine Miller, na espada, e a espanhola Marta Baeza, no sabre, são os alvos.


Endereço da página: