Folha de S. Paulo


20 anos depois da última vitória, Interlagos 'esquece' Ayrton Senna

"É triste, muito triste. Ele não pode ser esquecido."

Foi assim que Keith Sutton resumiu, com olhos fitando o horizonte, a falta de homenagens a Ayrton Senna em meio à semana do GP Brasil de F-1.

Sutton, fotógrafo até hoje, registrou muito da carreira de Senna antes da chegada à F-1.

Ambos se conheceram em 1981, na etapa de Thruxton da Fórmula Ford, e logo depois foi contratado pelo piloto.

A relação se intensificou com o passar dos anos, mesmo com a consolidação do brasileiro como astro.

Mais de três décadas depois, o temor do inglês pelo esquecimento do amigo se dá porque, exatos 20 anos após a segunda e última vitória de Senna em Interlagos, não há qualquer celebração à façanha.

A organização do GP Brasil não fará qualquer menção ao acontecimento e nem a F-1.

"Algo deveria ser feito. Foi há vinte anos que ele [Senna] ganhou sua última corrida. Ele tinha o apoio maciço dos brasileiros. Quando Ayrton morreu, milhões foram às ruas [em São Paulo]", lembra Sutton.

Enquanto a data passa batida, no próximo ano Senna será tema de samba enredo da carioca Unidos da Tijuca.

Pior é saber que o esquecimento não algo exclusivo a Senna. O autódromo de Interlagos, mais tradicional palco do automobilismo brasileiro, não tem qualquer acervo das provas e pilotos históricos que recebeu em seus 73 anos.

"Já houve um projeto para a criação de um museu aqui, em 2005, e até o Emerson Fittipaldi se envolveu. Mas tudo é decisão política, não é simples", afirma Chico Rosa, administrador do autódromo.

De acordo com o dirigente, não existem artefatos históricos mantidos no circuito. As memórias foram apagadas.

"Muita coisa se perdeu no tempo. Não sou de guardar objetos. Na minha sala, há apenas fotos dos brasileiros que foram campeões mundiais. Mas é mais para enfeitar que qualquer outra coisa", diz.

Interlagos já recebeu 30 corridas de F-1 e foi palco da definição de seis campeões do Mundial de Pilotos.

Apesar de nenhum de tais títulos acabarem com brasileiros, o circuito teve momentos de exaltação nacional. Um dos maiores foi justamente a vitória de Senna em 1993, quando fãs invadiram o traçado logo após a bandeirada final.

"Se nos lembrarmos bem, Senna ficava mais feliz de vencer no Brasil do que conquistar um título mundial", afirma Felipe Massa, da Ferrari.


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