Folha de S. Paulo


Clubes recebem ultimato para usar R$ 105 milhões na formação de atletas olímpicos

De olho em maximizar a performance da delegação brasileira na Olimpíada-2016, o governo deu um ultimato aos clubes para que comecem a empregar verba federal de R$ 105 milhões, parada em uma conta bancária desde março do ano passado, para formar os atletas olímpicos.

O valor hoje parado na conta seria mais do que suficiente para financiar todos os projetos do Clube Pinheiros para a formação de atletas no último ciclo olímpico.

A instituição, por meio da lei de incentivo fiscal ao esporte, captou naquele período R$ 38 milhões para atender a 600 jovens entre 14 e 19 anos.

O governo federal ameaça retirar das mãos dos clubes o controle da verba caso não seja alcançado um consenso, já que um atrito entre clubes formadores e a CBC (Confederação Brasileira de Clubes) é o obstáculo para seu uso.

"O ministério repassou o dinheiro. Eles [clubes] já podiam estar utilizando para trazer benefícios para os Jogos do Rio", argumenta Ricardo Leyser, secretário de Alto Rendimento do Ministério do Esporte. "Se os clubes não se entenderem, vamos [governo federal] alterar a lei e o governo é que irá executar."

O Ministério do Esporte pede foco, isto é, que o dinheiro seja concentrado no desenvolvimento de algumas poucas modalidades esportivas para fazer uma diferença.

Eduardo Anizelli/Folhapress
Bia Neres durante treino no Clube Pinheiros em São Paulo
Bia Neres durante treino no Clube Pinheiros em São Paulo

O governo quer integrar os clubes em uma rede nacional. Cita como engrenagens do sistema os centros de treinamento de Saquarema (vôlei) e São Bernardo (handebol).

"Os clubes têm que ocupar lugar nessa rede", diz Leyser, ao explicar que as agremiações desempenhariam papel complementar aos dos CTs.

"Tem que haver locais onde os atletas iniciam a prática esportiva, são garimpados, para no momento adequado ser encaminhados a centros sofisticados", afirma Leyser.

Para isso, orienta que os clubes deixem de lado suas diferenças e discutam com as confederações as necessidades do esporte.

"Quero que me digam, por exemplo: 'Vou aplicar em projetos de natação para provas de velocidade para jovens entre 15 e 16 anos'", cita ele. "Ou vou aplicar na formação, ou no alto rendimento", diz.

RACHA

Um grupo de oito clubes com tradição de formar atletas, entre eles Pinheiros (SP) e Minas, travam queda de braço com a CBC, entidade escolhida para receber o dinheiro. Eles a acusam de tentar fazer uso eleitoreiro da verba ao tentar distribui-la entre agremiações pequenas.

E a CBC acusa os formadores tradicionais de tentar concentrar a verba só entre eles.

Uma audiência pública foi marcada para a próxima terça, em Brasília, onde clubes com tradição olímpica e confederação terão oportunidade de chegar a um consenso.


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