Folha de S. Paulo


Série B tem ritmo alucinante e constante perde de bola, diz técnico campeão em 2012

Em 28 de setembro de 2011, os torcedores do Goiás estavam cabisbaixos pela campanha da equipe na Série B e pouco esperavam do treinador recém-chegado. Mas não imaginavam que Enderson Moreira lhes daria três taças e o sonho de voltar à Libertadores nos dois anos seguintes.

Até hoje pouco conhecido, ele havia tido alguma repercussão nacional ao dirigir o Ipatinga e, começando como interino numa emergência, o Fluminense. Porém conquistou o respeito da torcida goiana com dois títulos do Goiano e um da segunda divisão do Brasileiro.

Apenas Tite, campeão de tudo pelo Corinthians, e Cuca, vencedor da Taça Libertadores de 2013 pelo Atlético Mineiro, estão há mais tempo no comando de um dos principais clubes do Brasil.

Semifinalista da Copa do Brasil e quinto colocado do Brasileiro com o Goiás, Moreira conta, em entrevista à Folha, que seu time precisou se adaptar à elite. "O ritmo é alucinante na Série B, com perda constante da posse de bola. Aprendemos a reter mais a bola, chegar com mais gente à frente".

Jorge Adorno/ - 4.mai.2011 -Reuters
Enderson Moreira põe a mão na cabeça durante jogo do Fluminense pela Libertadores
Enderson Moreira põe a mão na cabeça durante jogo do Fluminense pela Libertadores

Folha - As equipes que sobem da Série B geralmente sofrem na primeira divisão, mas isso não acontece com o Goiás agora. Por quê?

Enderson Moreira - Acho que, na verdade, a gente sofreu, sim. O primeiro jogo [Cruzeiro 5x0 Goiás] foi muito em função disso. Talvez a gente tenha oscilado até pegar uma sequência boa, de sete jogos sem derrotas. Foi preciso transformar os erros em aprendizado.

O que o time aprendeu e precisou mudar?

Principalmente o ritmo, que é alucinante na Série B, com perda constante da posse de bola, ao contrário da Série A, onde o jogo é mais qualificado. Aprendemos a reter mais a bola, chegar com mais gente à frente. Foi muito importante buscar jogadores de nível técnico apurado. É preciso converter as oportunidades em gol.

Em 2012 e neste ano, o Goiás também enfrentou períodos ruins. Por que você acha que não foi demitido?

Acho que, primeiro, a gente não teve uma sequência de derrotas tão significativa. No máximo, duas derrotas e um empate [em 2013]. Isso conspira a favor. E a diretoria teve paciência, acreditou no trabalho, nos deram tranquilidade pra trabalhar.

O atacante Walter era um dos que estavam para sair. Voltaria ao Porto. Como conseguiram mantê-lo?

Foi um trabalho de convencimento. Mostramos ao Porto que, se ele foi bem na Série B, a visibilidade e valorização seriam maiores na A.

Fora de forma, ele já surpreendia na Série B com muitos gols e assistências. Mas conseguiu ser um dos destaques da Série A assim também. Como se explica esse desempenho tão bom, mesmo visivelmente acima do peso?

O parâmetro do jogador é o percentual de gordura. Ele [Walter] apresenta um índice acima do ideal que a gente coloca, mas não é tão absurdo como as pessoas imaginam. O biotipo dele é que chama a atenção, ele é atarracado, mais largo. Se ele tiver o percentual de gordura que todo mundo prega, mesmo assim terá essa imagem.
Mas ele é extremamente técnico e sabe lidar com essa situação. Nunca foi jogador de muita mobilidade, e a gente tem aproveitado as características dele.

Como as condições dele são adaptadas ao sistema de jogo do Goiás?

Ele não é um jogador de velocidade, é muito inteligente, busca os espaços e os lugares que tem melhor possibilidade [de ação]. Tem como principal característica a assistência. Possui visão de jogo privilegiada.

O nível do Campeonato Brasileiro caiu em relação a um passado recente, como afirmam alguns comentaristas?

Acho que uma coisa que concorre muito [para isso] é essa sequência de jogos [no meio e no fim de semana]. Não conseguimos recuperar os jogadores adequadamente, não tem tempo para treinar deficiências. Mas a gente tem tido bons jogos.
As equipes mais estruturadas têm uma vantagem em relação a essa sequência, graças a condições de tratar os atletas, departamento de fisiologia e equipe de profissionais capacitados.


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