Folha de S. Paulo


Diretor dos Jogos de Londres diz que Rio deve focar na transparência

Pensar em sustentabilidade na Olimpíada do Rio de Janeiro é principalmente avaliar os efeitos que os Jogos trarão para além de 2016.

A análise é de Dan Epstein, diretor de sustentabilidade e regeneração urbana dos Jogos Olímpicos de Londres 2012 e consultor no projeto do Parque Olímpico do Rio.

Segundo ele, o sistema de transporte, a falta de experiência na realização de grandes eventos e de transparência pública são as grandes dificuldades que a cidade terá para realizar uma Olimpíada com legado positivo.

Folha - Desde 2012, a Olimpíada de Londres tem sido internacionalmente apontada como um destaque sob o ponto de vista da sustentabilidade. Como isso foi conquistado?

Dan Epstein - Desde o projeto de sediar os Jogos, foi escolhido em Londres um local [o bairro de Stratford] para se construir um Parque Olímpico que pudesse ser catalisador de transformações sociais e econômicas. Era uma área degradada em que aproveitamos a oportunidade de grandes investimentos para benefícios duradouros.

Alberto Cesar Araujo/Folhapress
Dan Epstein durante evento em Manaus em 2011
Dan Epstein durante evento em Manaus em 2011

Outro ponto forte foi envolver a questão da sustentabilidade em todos os estágios da construção do parque. Aplicamos uma metodologia sustentável em todo o projeto.

Quais foram os benefícios ambientais que o parque trouxe?

Foram retiradas indústrias que estavam lá há séculos, 80% do solo contaminado foi recuperado e 97% do material de demolição dos prédios onde hoje está o Parque Olímpico foi reaproveitada nas fundações do próprio parque. Além disso, limpamos o rio local e o transformamos para que ele possa receber barcos.

O tema da sustentabilidade tende a ser visto como uma questão ambiental apenas...

O maior problema de qualquer Olimpíada, e o Rio de Janeiro vai passar por isso, é que, por conceito, elas não são muito sustentáveis.

Gasta-se muito dinheiro para um espetáculo de três semanas. A cidade tem transtornos gerados pela obra, com emissão de gases poluentes.

É muito provável que durante a realização dos Jogos a cidade fique paralisada, sem que depois disso o Rio tenha algum benefício.

Nós fomos a Atenas, Pequim, Munique, Barcelona e Atlanta e em muitas dessas foi fácil ver que foram gastas enormes quantias de dinheiro com ginásios e estádios que nunca serão usados de novo. Todos os estádios podem ser desmontados e reutilizados. Essa filosofia deverá ser aplicada no Rio.

De que maneira esse legado tem sido planejado para o Rio?

Sob o ponto de vista do legado, que é parte da sustentabilidade, o BRT [ônibus de trânsito rápido] deve ser um dos maiores destaques para a cidade. Até mais do que o Parque Olímpico. O Rio tem uma deficiência grave em transporte. Esse será o maior desafio para realização dos Jogos. Há planos de limpeza de lagos e de saneamento, além de transplante de árvores.

Você acredita no sucesso desse projeto?

Eu tenho certeza que a sustentabilidade está sendo levada em conta na Olimpíada brasileira. Mas é verdade que a gente também tem que observar que o Brasil é uma democracia muito mais nova. Acho que o Brasil terá maiores problemas para implantar a sustentabilidade em seu projeto do que Londres teve.

Por quê?

Nem todos os sistemas de fiscalização social das ações do governo estão desenvolvidos. Há também pouca experiência com eventos desta magnitude. Transparência e imprensa ativa também são importantes. Significa que, se o governo fizer uma promessa, isso terá que ser cumprido.

Afinal, o governo não terá chance de fazer outra coisa senão o que prometeu. O fato é que o Brasil e o Rio estão mudando muito e a Olimpíada pode ser uma ótima chance para catalisar tais mudanças.

O jornalista FABRÍCIO LOBEL viajou ao Reino Unido a convite do Consulado Britânico após ser um dos selecionados no Desafio GREAT


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