Folha de S. Paulo


Henrique aponta fim das polêmicas como grande transformação do Palmeiras

Um dos líderes do time do Palmeiras, o zagueiro e capitão Henrique creditou, em entrevista exclusiva à Folha, o sucesso do Palmeiras na Série B a transformação pela qual o clube passou nesta temporada.

De acordo com o jogador, após a eleição do empresário Paulo Nobre os jogadores foram blindados, as polêmicas fora de campo diminuíram e o foco ficou centrado apenas na busca pelo retorno à primeira divisão.

Hoje ele estará em campo diante do São Caetano, às 16h20, no Pacaembu, no jogo que pode garantir o acesso do Palmeiras --basta um empate.

Como um dos remanescentes do rebaixamento, Henrique disse também que o acesso terá um sabor especial e que, embora já dispute a Série B pela terceira vez e tenha sido campeão pelo Coritiba (2007), irá festejar o sucesso do Palmeiras no torneio.

Abordou também o movimento do Bom Senso F.C., que integra mais de 800 jogadores e batalha por melhorias no futebol, a possibilidade de jogar a Copa do Mundo de 2014, no Brasil, e batalhar para que uma tradição seja mantido. O Palmeiras teve representantes em todos os títulos da seleção brasileira nos Mundiais.

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Folha - O acesso do Palmeiras pode ser confirmado neste sábado. Para você terá algum sentimento especial?
Henrique - O sentimento principal é de alívio, de dever cumprido. Este ano todos passamos por aquela pressão de ter de colocar o Palmeiras de novo na Série A e a Série B é um torneio difícil. Todas as equipes dão o máximo contra o Palmeiras, tentam provar seu valor e isso valorizou nossa campanha. Sinto que é dever cumprido.

Muitos avaliam o acesso como obrigação. Isso tornou essa missão mais difícil?
Esse pensamento passou a ser realidade desde o rebaixamento, já antes do começo do ano, e permaneceu mesmo quando jogamos outras competições. Nosso principal objetivo sempre foi subir. Houve ansiedade e preocupação, mas vejo que cumprimos nosso papel.

Essa é sua terceira Série B. Antes, você jogou duas vezes pelo Coritiba. Dá para comparar a cobrança lá com a que teve aqui?
Sim, disputei dois anos pelo Coritiba que também é uma equipe grande e de expressão. As outras equipes nos encaravam com a mesma dedicação que hoje têm contra o Palmeiras. Havia pressão para subir também. Para superar essas barreiras o que fez a diferença foi a união do grupo, a vontade do grupo e o apoio da torcida, como agora.

Você inclusive foi campeão da Série B em 2007. Qual o valor de uma nova taça?
Sim, ganhei em 2007, mas se conseguir repetir a taça de agora vai ter um gosto especial porque no Coritiba não estava no grupo que caiu. No Palmeiras sim. Terá o peso de recolocar o Palmeiras na primeira divisão e vou lavar a alma. Para mim, esse é um sentimento maior do que o de dever cumprido.

Chegou a temer que sua imagem de ídolo fosse abalada após o rebaixamento?
Pensei várias coisas, mas a coisa que mais ficou na minha cabeça é querer tirar o Palmeiras dessa Série B. Me doei ao máximo, deixava o campo extremamente cansado e não conseguimos evitar a queda. Nunca pensei em sair do Palmeiras. O Palmeiras é grande, continua grande. O carinho que os torcedores têm por mim eu tenho por eles.

Uma vez que o Palmeiras conquiste o acesso o que pode ser feito para manter o time motivado?
Primeiro temos que alcançar o primeiro objetivo, que é o acesso. Depois vamos atrás do título, tentar confirmar o quanto antes, e buscar o máximo de pontos para terminarmos com uma campanha de destaque.

Na sua visão, quais as diferenças do Palmeiras desse ano e do ano passado?
Depois do título da Copa do Brasil no ano passado a gente tinha um grupo forte, unido, fechado. Depois não sei explicar o que aconteceu. As coisas não saíram como planejado. A diretoria estava com problemas, rachada, isso acabou refletindo nos jogadores e na comissão técnica. Muitos problemas políticos. Diferente deste ano que a diretoria tem trabalhado de forma integrada, todos unidos.

O que refletiu nos jogadores? Informações vazarem e serem discutidas publicamente?
Sim. Isso faz muita diferença. Ano passado vazavam muitas coisas. Todo dia a gente tinha de explicar algo, o presidente também. O novo presidente chegou, mudou a forma de conduzir o clube e hoje nos conseguimos trabalhar tranquilos. Tivemos até dificuldades, mas com todo mundo envolvido a gente conseguiu colocar em prática o que queríamos.

Dá para pontuar os momentos mais difíceis neste ano?
Muitas viagens, campos ruins para jogar. Em alguns jogos até a arbitragem foi algo que tivemos de superar, como no jogo contra o Sport.

Tratando um pouco sobre você. Você é líder desse grupo. Como exerce essa liderança?
Tranquilo. Todo jogador tem liderança no grupo, tem força na palavra, todo mundo pode cobrar. Não tem diferença. Todos são iguais, todos são importantes para o grupo, para o clube e para a torcida. A cobrança é aberta, diária e sempre buscando o melhor.

O Palmeiras tem tradição de mandar jogadores para a Copa do Mundo nos anos que a seleção é campeão. Você é o único no elenco em condições de manter essa tradição. Pensa nisso?
Não sabia, mas espero que essa tradição não seja quebrada [risos]. Mas antes de falar de seleção eu tenho de continuar meu trabalho aqui, ajudar o Palmeiras, subir com o time e as coisas vão acontecer. Felipão me conhece, sabe como é meu trabalho. Se eu ajudar o Palmeiras, a vaga na seleção será natural.

Jogar a Copa de 2014 no país é um sonho?
Sonho sim, algo que penso muito e acho que é um desejo de todo mundo.

O fato de 2014 ser também o ano do centenário é uma motivação maior?
Vamos em busca de um ano vitorioso. A ideia é entrar nas competições com força para ser campeão. Tem de ser um ano bom, positivo, porque ficará marcado para sempre no clube, mas antes de tudo é preciso acabar bem esse ano. Depois vamos pensar no que é preciso para melhorar em 2014, a diretoria também vai pensar para manter essa ascensão.

Como avalia o movimento do Bom Senso F.C.?
Todo mundo tem de se respeitar no futebol. Foi um ano difícil, muitos jogos, muito tempo longe da família, dos amigos. Há um desgaste emocional, mental. É muita pressão. É necessário ter férias para voltar zerado, 100%. Quinze ou vinte dias, como nós teríamos, não fazem diferença. Não dá para dizer que isso são férias. Eu não consigo recuperar nesse tempo para voltar relaxado, com a cabeça tranquila, renovada e 100% para começar uma outra temporada bem, sem lesão. Quem faz o calendário tem de respeitar os envolvidos porque um depende do outro. Tem de se ajudar para todo mundo poder dar resultado. Os jogadores renderem, jogarem com melhor nível, sem lesão, e os campeonatos serem bons.

Essa anos vocês conseguiram algumas vitórias. Podem vir outras?
Não vejo como vitórias. São coisas que precisavam ser feitas. Nós não somos máquinas. Precisamos ter descanso, estar preparados para apresentar um bom rendimento. No caso do Palmeiras, nos jogamos uma Série B com partidas terça e sexta/sábado. Sempre nesse ritmo: terça e sexta/sábado. Com jogos próximos uns dos outros, em lugares distantes, muito tempo concentrado, longe da família. O corpo não aguenta. Você não tem folgas. Em um mês você está todo dia no clube e não tem tempo para se recuperar e descansar. Uma semana de pré-temporada faz diferença. Poucos dias para treinar, se preparar, não ajudam. Não dá para estar 100% todos os jogos.


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