Folha de S. Paulo


Técnico de Zanetti cobra mais apoio e abre crise com o governo

O técnico Marcos Goto, que treina o campeão olímpico e mundial nas argolas Arthur Zanetti, 23, criou um mal-estar ontem com o governo federal ao reclamar da falta de estrutura do esporte no país.

Treinador do ginasta desde a infância, Goto disse que, desde o título em Londres, no ano passado, o pupilo passou a ter equipamentos melhores no Serc Santa Maria, em São Caetano do Sul (Grande São Paulo). Mas afirmou que não é suficiente, pois o ginásio onde treinam não é climatizado, por exemplo.

"Não adianta o país fazer um centro de treinamento para a ginástica em 2015. O que vou fazer com o Arthur em seis meses? Em janeiro de 2015, ele precisa estar pronto", disse em entrevista no ginásio do clube, após a conquista do Mundial no último sábado, na Bélgica.

Marcel Merguizo/Folhapress
Arthur Zanetti exibe a medalha de ouro do Mundial ao lado do técnico Marcos Goto, em São Caetano do Sul
Arthur Zanetti exibe a medalha de ouro do Mundial ao lado do técnico Marcos Goto, em São Caetano do Sul

O técnico reclamou do Ministério do Esporte, que bancará a construção de centro de treinamento para a ginástica na cidade, em terreno cedido pela prefeitura.

"O que mais estou esperando é o Ministério do Esporte fazer a parte dele. Até agora, não fez nada por nós".

O ministério rebateu as críticas do treinador.

"Marcos Goto é excelente técnico, campeão olímpico e mundial, mas não tem a menor noção de administração de projetos e da fonte de recurso para a preparação do atleta", afirmou Ricardo Leyser, secretário nacional de Esporte de Alto Rendimento, por telefone, à Folha.

O secretário lembrou que Zanetti recebe Bolsa Atleta, patrocínio de empresa estatal e outros recursos federais.

"Atribuo as declarações dele [Marcos Goto] ao desconhecimento de quem paga as contas", afirmou Leyser.

O próprio Zanetti adotou um tom menos crítico ao ser questionado sobre o apoio que recebe atualmente.

"Para mim está tranquilo. Consigo viver bem e com estrutura", disse o atleta, que ameaçou deixar o país no início do ano por falta de apoio.

"Foi um equívoco dizer que treinaria fora do Brasil."

O ginasta, porém, lamentou o fato de outros ginastas da seleção, como Diego Hypolito e Sérgio Sasaki, não terem clube desde que o Flamengo dispensou os atletas olímpicos no início do ano.

Fato este também criticado por Goto. "O esporte olímpico do Brasil está ruim em estrutura, está se arrastando. Não só a ginástica. Em 2016 a cobrança será gigantesca. E o atleta não amarela, é o país que o prepara mal", disse.

Marcel Merguizo/Folhapress
Centro de treinamento de ginástica em São Caetano do Sul
Antigo ginásio de ginástica em São Caetano do Sul que vai virar centro de excelência para Zanetti

Segundo o coordenador técnico da seleção masculina de ginástica, Leonardo Finco, um centro de alto rendimento exclusivo da modalidade será construído no Rio, via Comitê Olímpico Brasileiro, em 2014.

"Um centro de alto rendimento é fundamental, para concentrar o trabalho, porque o tempo é pequeno e porque a grande maioria dos clubes do Brasil não tem condição para o alto rendimento", disse Finco, que também é treinador do Clube Náutico União, de Porto Alegre.

Este ano a seleção deixou de ter o centro de treinamento de ginástica que funcionava dentro do Velódromo, no Rio. A cidade sede dos próximos Jogos Olímpicos, no entanto, é a melhor escolha para receber a volta da seleção permanente, segundo Finco.

"CT no Rio é mais caro, mas estrategicamente é melhor para nós. Muitos países têm interesse em fazer aclimatação no Rio e querem treinar em conjunto conosco", explicou o coordenador da seleção masculina do Brasil.

OUTRO LADO

Segundo Ricardo Leyser, o projeto de construção de um centro de treinamento de ginástica em São Caetano do Sul já está pronto, mas foi pedido ajuste no orçamento, o que a prefeitura já estaria fazendo antes de abrir a licitação.

De acordo com Leyser, o Ministério do Esporte vai investir R$ 7,8 milhões para custear integralmente a obra, além de comprar equipamentos para o ginásio que deve estar pronto ainda em 2014.

Já o Comitê Olímpico Brasileiro alega que investe em Arthur Zanetti e Marcos Goto desde antes os Jogos de Londres-12. Diz que enviou 22 equipamentos que custaram cerca de R$ 500 mil ao clube deles, além de realizar pagamento mensal ao técnico e ajudar o ginasta na indicação de patrocínios.

Em relação à falta de competições internacionais no Brasil --outra reclamação de Goto--, a presidente da Confederação Brasileira de Ginástica, Luciene Resende, disse que falta verba. Mas ressalta que os ginastas são enviados para as grandes competições no exterior.

"Sem dúvida, gostaríamos de realizar muitas competições internacionais, como qualquer outra confederação também gostaria. Mas precisamos de verbas para isso", disse Luciene por meio da assessoria de imprensa da entidade.


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