Folha de S. Paulo


Brasil aposta em convite, retorno e só duas profissionais para ter uma golfista na Rio-16

Três tacadas. É o que o Brasil possui no golfe feminino rumo à Olimpíada de 2016.

Para ter uma mulher representando o país nos Jogos do Rio, as chances estão em uma jogadora que vive na Colômbia, outra no Japão e uma aposta nos Estados Unidos.

Victoria Alimonda Lovelady, 26, e Maria Priscila Iida, 34, são as únicas duas golfistas brasileiras profissionais atualmente. Angela Park, 25, é a tacada de risco do país.

O buraco é o fato de nenhuma delas aparecer no ranking mundial atualmente, pré-requisito para a disputa da Rio-16.

Assim, a CBG (Confederação Brasileira de Golfe) recorreu a um convite junto à IGF (Federação Internacional da modalidade) para ter ao menos uma mulher defendendo o país no campo que está sendo construído na Barra da Tijuca (zona oeste carioca).

O Comitê Olímpico Internacional e a IGF ainda não anunciaram a definição do sistema de classificação, mas a proposta inicial é a de 60 jogadores em cada gênero, com o limite de quatro por país.

Entre os homens, o Brasil tem sete golfistas no ranking mundial atualmente e a CBG acredita que ao menos um deles classifique-se diretamente aos Jogos.

"Estamos trabalhando, o pedido para a IGF está muito bem conduzido. A vontade é muito grande de ter ao menos dois homens e duas mulheres no Rio ", diz o presidente da CBG, Paulo Pacheco.

À Folha, a IGF disse que vai recomendar que o Brasil tenha representante na Rio-16, mas não definiu quantos.

Luiz Carlos Murauskas - 21.nov.07/Folhapress
Angela Park brinca com protetores de tacos, em São Paulo, em 2007, quando foi considerada a estreante do ano no LPGA
Angela Park brinca com protetores de tacos, em São Paulo, em 2007, quando foi considerada a estreante do ano no LPGA

TACADA DE RISCO

No momento, mais do que as duas profissionais que estão no exterior ou a descoberta de um jovem talento ainda amador no Brasil, a CBG aposta em Angela Park.

Nascida em Foz do Iguaçu, filha de sul-coreanos, Angela foi eleita a caloura do ano da LPGA (liga profissional de golfistas dos EUA, a principal do mundo) em 2007.

Ela se mudou aos 8 anos para a Califórnia e chegou a ser 14ª do ranking mundial, mas abandonou a carreira em 2010 e foi trabalhar como recepcionista em um hotel.

Depois de uma tentativa frustrada de voltar ao circuito profissional em 2012, Angela jogou um campeonato nos EUA em agosto passado. Não foi bem novamente, mas o presidente da CBG confia no retorno dela rumo à 2016.

"Estamos acompanhando de perto, ela voltou definitivamente", afirma Pacheco.

A Folha tentou contato com Angela, mas não obteve resposta. Segundo Pacheco, em troca de e-mail recente com a melhor golfista brasileira da história, ele teria dito: "Você precisa aprender a falar português para agradecer a medalha na Olimpíada".

O golfe foi disputado nos Jogos de 1900 e 1904. Volta à Olimpíada no Rio e já está garantido em Tóquio-2020.

Arquivo Pessoal
Victoria se destacou no golfe universitário dos Estados Unidos antes de se tornar profissional
Victoria se destacou no golfe universitário dos Estados Unidos antes de se tornar profissional

DA COLÔMBIA AO JAPÃO

A paulista Victoria Alimonda Lovelady mudou para os EUA aos 16 anos, quando já praticava golfe. Na Califórnia conquistou duas vezes o campeonato nacional universitário (NCAA) por equipes.

Em 2011, já profissional, ela se mudou para a Colômbia, país que possui uma jogadora entre as 100 melhores do mundo. Em busca de patrocinadores, ela disputa a Symetra Tour, circuito americano de acesso ao LPGA. É, assim, a melhor brasileira no golfe profissional hoje.

Para 2014, Victoria planeja jogar o circuito profissional europeu, onde pode ganhar pontos para o ranking mundial com mais facilidade do que nos Estados Unidos.

"Eu creio que posso me colocar no ranking nestes próximos dois anos", diz.

Victoria e CBG já fizeram contato, apesar de um certo distanciamento entre ambas.

"A estratégia mais inteligente seria investir nas profissionais que já fazem parte do mais alto nível de competição mundial. Tempo de formar jogadoras que nunca tiveram experiência fora do Brasil, eu creio que não temos para 2016, talvez para 2020".

Do outro lado do mundo, mas com o mesmo desejo de jogar na Rio-16, está uma golfista nascida em Guarulhos, neta de japoneses.

Maria Priscila Iida também se destacou no golfe ainda jovem e representou o Brasil em torneios internacionais dos 11 aos 24 anos.

Mauricio Lima - 4.ago.02/AFP
Maria Priscila defende o Brasil na conquista do Sul-Americano de 2002, em Mogi das Cruzes
Maria Priscila defende o Brasil na conquista do Sul-Americano de 2002, em Mogi das Cruzes

Hoje, com dois patrocinadores e diversos apoiadores, após se graduar em Fisioterapia no Brasil, ela conseguiu se profissionalizar no Japão, onde disputa o circuito de acesso à principal liga profisional do país asiático, onde o golfe é uma modalidade bem conceituada.

"Achei incrível [o golfe voltar aos Jogos em 2016]. A partir do momento em que você faz parte de um torneio [como a Olimpíada], todos têm a possibilidade de ganhar e perder. Basta tentar o seu melhor e o resto é resultado", diz Maria Priscila, no Japão, em coro com Victoria, na Colômbia.

"É um sonho poder entrar na arena olímpica com o uniforme do Brasil. A Olimpíada resume todo o esforço, toda a dedicação e sacrifício que a gente faz diariamente como atleta. Quero jogar!".

Scott A. Miller/Divulgação
Melhor golfista brasileira em atividade hoje em dia, Victoria Alimonda Lovelady vive e treina na Colômbia
Melhor golfista brasileira em atividade hoje em dia, Victoria Alimonda Lovelady vive e treina na Colômbia

Endereço da página:

Links no texto: