Folha de S. Paulo


Pai de Neymar deu prazo para craque sair, diz presidente do Santos

Odílio Rodrigues Filho, 65, deixou o posto de vice-presidente do Santos e virou o principal dirigente do clube há um mês, após o antecessor Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro pedir licença médica de um ano.

A função não é novidade --o cartola vinha assumindo o cargo com frequência desde janeiro. As cobranças também têm se tornado rotina. A razão principal? Neymar.

Nunca um dirigente do clube havia falado tão abertamente sobre a negociação do jogador, como Odílio faz nesta entrevista à Folha.

Diz que a venda só foi concretizada após o pai de Neymar pressionar o Santos e dar como prazo para o negócio ser fechado o início da Copa das Confederações. Admite ainda que o clube cedeu para ter retorno financeiro.

O craque tinha contrato até julho de 2014 e, a partir de janeiro, poderia assinar um pré-acordo para sair de graça. Procurado, Neymar pai preferiu não comentar.

Odílio também disse que o Pacaembu pode ser a a alternativa para o clube ter uma nova arena. Mas é cauteloso. Um dos motivos é que gostaria de modernizar o local e isso depende da prefeitura. O plano de ter o local foi renovado após o secretário municipal de Esporte, Celso Jatene (PTB), anunciar que o Pacaembu deve ser privatizado neste ano.

Moacyr Lopes Junior - 10.set.13/Folhapress
Odílio Rodrigues Filho, presidente do Santos, dá entrevista na sede do clube, na Vila Belmiro
Odílio Rodrigues Filho, presidente do Santos, dá entrevista na sede do clube, na Vila Belmiro

*

Folha -- O Santos estava preparado para perder Neymar?
Odílio Rodrigues Filho - Nenhum clube está preparado para perder um ídolo. Nós tínhamos um prazo para vendê-lo, colocado pelo pai, que era até o início da Copa das Confederações [15 de junho]. Se não fosse vendido, ele ficaria e, em janeiro, assinaria pré-contrato [com outro clube]. O Santos ficaria sem retorno. Neymar vivia um momento difícil, com vaias e resultados ruins. Apareceram duas propostas [Barcelona e Real Madrid] e escolhemos a melhor para o Santos.

Qual foi o impacto da saída?
Teve impacto na autoestima da torcida, na qualidade do futebol do time, nos jogadores que querem vir para o Santos. Passamos dois meses tentando renovar até 2016, mas o pai disse: 'Meu filho não fica um minuto além de 2014'. Teve consequência, mas o Santos já lidou com a perda de Pelé e outros ídolos.

E o impacto financeiro?
Mesmo com Neymar, ficamos sem patrocínio máster. O Santos perdeu R$ 22 milhões com a ausência de uma marca no peito da camisa e outra na manga. Vendemos três atletas [Rafael, Felipe Anderson e Neymar] para ter renda. A torcida pensa que estamos com dinheiro e não estamos.

Quais os planos do Santos para uma nova arena?
A arena é uma parte importante na receita. Há uma complicação: fazer na Baixada ou aproveitar o Pacaembu em São Paulo. Os estudos sobre uma arena na Baixada mostram que teria um retorno mais baixo, com dificuldade de atrair investidores. Temos interesse no Pacaembu. O vínculo é com Santos, mas o clube é maior, ultrapassou os limites da cidade e tem de estar próximo da numerosa torcida que possui na capital.

Como ficaria a Vila Belmiro?
A ideia é que a mística permita usá-la como um estádio butique, ampliando o museu do Santos, com acomodações modernas para ter um número menor de jogos, restaurante e bar temáticos.

A nova geração, com Gabriel, Victor Andrade, Neílton e Giva, pode resultar no mesmo crescimento da era Neymar?
Eles são promissores, mas o que estimula o crescimento são títulos e times competitivos. O Santos da minha geração, que viu Pelé, parou no quadro associativo. Começou a crescer novamente com Robinho e Diego, e depois com Neymar. É incrível como somos procurados por jovens. Mas temos de entender que há um processo de amadurecimento e que temos jogadores que não vingaram porque pularam etapas. Precisamos ter muita paciência com eles.

Aproveitar os jovens inclui o projeto do novo CT da base?
Vamos sair do nosso CT de 28.500 metros quadrados e ir para um de 60 mil metros quadrados ou de 100 mil na região. Se não inaugurarmos na nossa gestão, vamos deixar encaminhado para a próxima. Pensamos em pelo menos cinco campos para a base treinar e conseguir um terreno por uma permuta.


Endereço da página:

Links no texto: