Folha de S. Paulo


De volta ao futebol, atacante fala em descaso do Corinthians após problema no coração

Nove meses após ser diagnosticado com um problema cardíaco, o atacante Adilson, 26, está de volta ao futebol em meio a críticas contra o seu ex-clube, o Corinthians, que se defende das acusações.

O jogador, que assinou contrato com o XV de Piracicaba até junho de 2016, voltou a jogar no último dia 31, quando entrou durante o segundo tempo da derrota para o Independente por 1 a 0, pela Copa Paulista. Ele já atuou em outras duas partidas.

Adilson não jogava desde 12 de setembro do ano passado, quando teve sua última oportunidade com o técnico Tite. Três meses depois, o atacante teve diagnosticado o problema cardíaco em um exame de rotina. Na época, ele estava próximo de se transferir para o Ceará, que desistiu da negociação assim que soube do diagnóstico.

Michel Lambstein/Divulgação/XV de Piracicaba
O atacante Adilson durante sua primeira partida no retorno ao XV de Piracicaba
O atacante Adilson durante sua primeira partida no retorno ao XV de Piracicaba

"Adilson fez alguns exames por conta própria e nos procurou com os resultados. E apareceu uma alteração no coração. Com isso, o orientamos para fazer um tratamento e o aconselhamos a ficar afastado até a recuperação", disse o médico e cardiologista do esporte Nabil Ghorayeb, chefe do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e do Hospital do Coração.

"Faltavam 25 dias para terminar meu contrato quando foi diagnosticado o problema. O Corinthians me acompanhou até fevereiro, mas depois os médicos do clube falaram que já tinham passado a situação para o Incor e que eu tinha que me virar", contou o jogador, que chamou a atenção do Corinthians após marcar cinco gols no Paulista-2012.

"Me senti abandonado, desamparado com a atitude do Corinthians. Troquei de médico porque o Corinthians parou de fazer o acompanhamento."

O Corinthians se defende das acusações e diz que o jogador já havia sido liberado para procurar outro clube após não ter sido inscrito para o Mundial de Clubes, no Japão.

"No começo de janeiro, soubemos que o Adilson apresentava um problema no coração. Mesmo assim, mantivemos o convênio médico do jogador e fizemos todos os exames novamente. Estávamos estudando dar uma ajuda de custo para ele, quando em fevereiro ele nos virou as costas e disse que entraria com uma ação contra o clube", afirmou o médico do Corinthians, Joaquim Grava.

"Legalmente, a gente nem precisaria ter tratado dele nesses dois meses e meio depois, porque o contrato já havia acabado. Ele é oportunista e mal intencionado", disparou Grava.

Rubens Cavallari - 14.ago.2012/Folhapress
O atacante Adilson fez 11 partidas pelo Corinthians e não marcou nenhum gol
Adilson fez 11 jogos pelo Corinthians e não marcou gol

Adilson, que fez apenas 11 jogos pelo time alvinegro e não marcou gol, declarou que apenas fez uma ameaça e que não entrou com a ação.

Após iniciar o tratamento por conta própria, o atacante corintiano procurou o Instituto do Coração, onde fez novos exames para continuar o acompanhamento médico.

"Ele foi submetido a todos os exames cardiológicos necessários e foram descartados quaisquer problemas estruturais ou arrítmicos", afirmou a cardiologista Denise Tessariol Hachul, da unidade de arritmia do Instituto do Coração.

Porém, a médica ressalta que a liberação para a prática de futebol deve ser feita pelo próprio clube, neste caso, o XV de Piracicaba.

"O Adilson está liberado para jogar. Analisamos os exames e não tem nada. Ele vai fazer exames cardiológicos a cada três meses", disse o médico da equipe piracicabana, José Roberto Ferraciú Alleoni.

DESMAIO

O problema cardíaco que Adilson teve no Corinthians não foi o primeiro em sua carreira. Em julho de 2011, o jogador desmaiou em campo durante uma partida da Copa Paulista.

"O jogo foi em Santa Cruz do Rio Pardo. Com três minutos de jogo, desmaiei. Depois eu levantei como se não tivesse acontecido nada e queria continuar no jogo, mas o médico do clube não deixou", relatou Adilson.

Com a ajuda de um empresário da região, Adilson foi encaminhado ao Instituto Dante Pazzanese, onde conheceu o médico Nabil Ghorayeb e passou por uma bateria de exames.

"O diagnóstico inicial era de cardiomiopatia hipertrófica, o coração cresce para dentro, fica espesso e provoca obstruções internas ou arritmias cardíacas, que pode provocar parada cardíaca seguida de morte", disse.

O problema detectado em Adilson no primeiro diagnóstico é o mesmo que matou o zagueiro do São Caetano Serginho, então com 30 anos, em uma partida contra o São Paulo, no Morumbi, pelo Campeonato Brasileiro-2004.

"Repetimos os exames depois de seis meses e estava normal. Com isso, ele foi liberado, com a condição de que voltasse regularmente para fazer exames. Por que como é um problema que apareceu e desapareceu mais de uma vez, nada garante que não volte", acrescentou Ghorayeb.

"Fiquei assustado porque na época tinha muitos jogadores morrendo com problemas no coração. Não poderia nem brincar de bola, pois eu poderia morrer. Se arrumasse outro trabalho teria que ser algo com menos esforço físico", disse Adilson.

"Agora desta segunda vez estava muito mais tranquilo. Joguei algumas partidas amadoras, mesmo correndo risco. Felizmente, agora estou liberado", completou.

Michel Lambstein/Divulgação/XV de Piracicaba
O atacante Adilson durante treinamento do XV de Piracicaba
O atacante Adilson durante treinamento do XV de Piracicaba

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