Folha de S. Paulo


Viúva de Leônidas não sabe o que fazer com medalha de artilheiro da Copa-38

Uma medalha pequena, corroída pelo tempo e até modesta dada sua importância histórica repousa em uma caixinha guardada em um quarto todo ornamentado como um santuário de Leônidas da Silva no bairro do Paraíso, na zona sul de São Paulo.

Eduardo Knapp/Folhapress
Medalha da Fifa ganha por Leônidas na Copa-38
Medalha da Fifa ganha por Leônidas na Copa-38

O prêmio recebido pelo artilheiro da Copa do Mundo de 1938, o primeiro brasileiro a ser o goleador (com sete gols) de um torneio da Fifa, é só uma das relíquias da filósofa e funcionária pública aposentada Albertina Pereira dos Santos, 85.

Ex-amante e companheira até os últimos dias da vida do ex-atacante que marcou época nas décadas de 1930 e 1940, principalmente no Flamengo e no São Paulo, que completaria 100 anos nesta sexta-feira, ela não sabe muito bem o que fazer com as preciosidades.

"Tenho muito material aqui comigo. Já pensei em fazer um memorial, a casa Leônidas, mas teria que arranjar patrocinadores. É uma ideia que nunca avançou. Se você tiver outro plano, me avisa."

Albertina e o Diamante Negro, que popularizou os gols de bicicleta, começaram a se relacionar em 1956. Só passaram a morar juntos nos anos 1980, depois da morte da segunda mulher do ex-jogador, Iracema, e quando ele já sofria em decorrência do Mal de Alzheimer contra o qual lutaria até a morte, em 2004.

O casal não teve filhos. Ninguém que possa herdar as relíquias da maior estrela do futebol brasileiro antes dos anos Pelé. Pelo menos não da linhagem de Albertina.

Eduardo Knapp/Folhapress
Albertina, 85, segura medalha de Leônidas em SP
Albertina, 85, segura medalha de Leônidas em SP

"Não tenho nada que era dele comigo. Lógico que queria ficar com a medalha de 1938. Mas o que desejo é o anel de diamante negro que ele sempre usava. Um dia ele prometeu que o anel ficaria com meu filho. Só que nunca cumpriu", diz a policial civil aposentada Suely Miranda Zito, 68, que mora confortavelmente em São Paulo.

Fruto de um dos tantos casos extraconjugais do craque nos anos 1940 e a cara de Leônidas, ela conviveu bastante na juventude com o pai, que não escondia de ninguém que ela era sua filha. Mas nunca foi reconhecida judicialmente por ele. Restou a mágoa, bilateral, que a impede de ser a herdeira das relíquias.

"Só queria ter sido mais amiga dele. Não fui visitá-lo [enquanto ele esteve internado em uma clínica para idosos em Cotia] e nem fui ao enterro dele porque acho que cabia à Cidinha [Albertina] me procurar. Mas todas as mulheres dele tinham receio de mim, tentavam afastá-lo de mim", afirma Suely.

A ex-policial até entrou na Justiça com um pedido de reconhecimento de paternidade, mas "um cochilo" do seu advogado, como conta, fez o processo não ir adiante.

Já de Cleuza Augusta de Aquiles, pouco mais de 60 anos, Leônidas aparentemente nunca soube. Do craque, a mineira, que vive humildemente em Uberlândia, não tem objeto nenhum, só a certeza de que é o seu pai.

"Sobre essa eu não sei nada. O Leônidas nunca falou dela", completa Albertina.

Editoria de arte/Folhapress
Clica aqui e veja vídeos de dez jogadores que fizeram gols de à la Leônidas e leia um pouco mais da história do ex-jogador
Clica aqui e veja vídeos de dez jogadores que fizeram gols à la Leônidas e leia um pouco mais da história do ex-atacante

Endereço da página:

Links no texto: