Folha de S. Paulo


Em poema, amante homenageia e faz declaração a Leônidas da Silva

Escrito em 1957 e publicado por iniciativa da própria autora, Albertina Pereira dos Santos, 85, neste ano, "Poema para Leônidas" é uma homenagem feita pela filósofa ao homem que foi seu amante de 1956 até 2004, ano em que o ex-atacante da seleção brasileira morreu, aos 90 anos, depois de três décadas lutando contra o Mal de Alzheimer.

Leônidas da Silva disputou duas Copas do Mundo e (1934 e 1938) e foi o artilheiro do segundo Mundial que disputou. O ex-centroavante é conhecido por ter popularizado a jogada conhecida como bicicleta e é um dos maiores jogadores das histórias do Flamengo e do São Paulo.

Leia abaixo a poesia escrita pela amante de Leônidas.

POEMA PARA LEÔNIDAS

I
Não me lembro pois não vi.
Mas eu sei.
As lembranças que me deste
aos poucos se projetaram
na tela deste horizonte
de saudades, de alegrias,
desenhando pela vida
que, num chute,
te jogou pra dentro dela.

Eras jovem e às letras te chamaram.
Ia em meio teu ginásio
quando o jeito,
quando a bossa
te chamaram bem mais alto
para a glória que alcansaste.

Foram tempos de partidas.

Te chamaram Diamante
Negro --pelo brilho, pela cor--
Borracha --ah, aquele jeito, aquela bossa
Indovindo como zás!--
Bicicletavas no ar,
pois o espaço,
só o espaço, sem limites,
poderia limitar-te

Alguns mares te chamaram.
Foste longe,
menos longe
e voltavas com o sorriso
da vitória iluminando
teu rosto de noite escura
que dava pra tornar dia
todas as noites de então!

Ah, foram tempos de partidas.
Sim, tempos de muitas vidas!
Entretanto, multidões que te chamavam
num só grito
como chuva, de uma vez,
não calaram em teus ouvidos
as vozes que dialogavam
nas tesouras dos teus pés:
o presente que vivias,
o futuro que esperava
como árvore ainda nova
que lhe levasses as flores
e os frutos que semeavas

II

Não lembro pois não vi
Mas outro dia encontrei
novo fruto em tua árvore
semeado com as mãos,
essas mãos que agora usas
quando falas para o ar
em que cruzavam teus pés.

Teu nome é Diamante
Negro --pelo brilho, pela cor--
lapidado pelos anos
que viveste
e por estes em que vives
e encontras
novas formas de viver
construídas não apenas
por teus pés,
por tuas mãos
ou tuas falas no ar.
Mas por algo que te vai dentro,
herança de gente forte.
Poucos sabem como eu.
E como eu hão de lembrar!

Editoria de arte/Folhapress
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