Folha de S. Paulo


Acima do peso, atacante Walter, do Goiás, desafia as cartilhas da preparação física

"Não preciso de nenhum dado para ver que ele tem uma barriga digna de atleta de peladas. Isso só prejudica. Perder uma dezena de quilos só traria benefícios a ele."

Nem o fisiologista Turíbio Leite de Barros, professor da Unifesp, ex-São Paulo e uma das autoridades brasileiras no assunto, consegue entender como Walter, 24, se tornou um dos astros da Série A.

Afinal, os 92 kg distribuídos por 1,78 m, resultado de um passado em que bebia 2 litros de refrigerante por dia e devorava pacotes de bolachas recheada, fazem do atacante do Goiás uma figura que parece incompatível com os seis gols que fez no torneio.

"Lógico que estou acima do peso. Não minto para ninguém", disse, após marcar no 1 a 0 sobre a Ponte Preta, domingo passado. Ele não dá mais entrevista exclusiva por se dizer alvo de "bullying".

Carlos Costa - 10.nov.12/Folhapress
O atacante Walter comemora gol do Goiás durante jogo contra o Barueri, em partida que garantiu o acesso do clube à Série A
O atacante Walter comemora gol do Goiás contra o Barueri, em partida que garantiu o acesso do clube à Série A

Seu Índice de Massa Corporal, de 29,04, é de uma pessoa que está "acima do peso" e já à beira de ser considerada obesa (a partir de 30).

E desafia avaliações sobre como deve ser o físico de um jogador de futebol de elite.

"O peso tem pouca influência no rendimento do Walter. Ele tem padrões de treinamento, jogo, avaliação física e recuperação até melhores que atletas bem condicionados", diz o preparador físico do Goiás, Róbson Gomes.

Ele diz que até o percentual de gordura do jogador não é tão diferente dos outros: varia de 13,5% a 14%, enquanto o esperado de um atleta de futebol vai de 9% a 12%.

Segundo Gomes, Walter compensa um pouco da deficiência provocada pelo peso com uma força física descomunal, assim como fazia Ronaldo, eleito três vezes o melhor do mundo e famoso pela saliente barriga que carregou na reta final da carreira.

"Mesmo nos períodos em que esteve mais pesado, o sprint, de pura explosão muscular, do Ronaldo era o melhor do elenco", assegura Bruno Mazziotti, fisioterapeuta que trabalhou com o Fenômeno no Corinthians.

O antigo camisa 9 da seleção disputou a Copa do Mundo de 2006 com 96 kg. Seu companheiro de ataque, Adriano, estava ainda mais pesado: 98 kg. Ambos engordaram depois do Mundial e passaram da casa dos 100 kg.

E sofreram com contusões, provocadas principalmente pelo desgaste de articulações que não aguentaram o peso.

"Não importa que eles tenham um talento especial para fazer gols e façam sucesso. O Ronaldo teve sérios problemas físicos, o Adriano praticamente teve de se aposentar por causa disso", diz Turíbio.

Mas se Ronaldo, Adriano e, em um outro patamar, Walter conseguiram brilhar mesmo com quilos a mais, a maioria dos jogadores sucumbe.

Meia do Inter e da seleção no início da década passada, Daniel Carvalho voltou dos sete anos que passou na Rússia com um físico avantajado. Passou sem deixar saudades por Atlético-MG e Palmeiras e hoje defende o Criciúma.

Já o meia Douglas só recuperou a confiança da torcida corintiana e do técnico Tite após perder 5 kg em 2012.

"Quando você sai da situação de sobrepreso, todos os índices vão melhorar junto: a velocidade, a movimentação, o ritmo de treino e jogo", completa Mazziotti.


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