Folha de S. Paulo


Análise: não foi surpresa o desempenho do Brasil no Mundial de atletismo

Não foi surpresa nenhuma o Brasil ter deixado o Mundial de atletismo de Moscou sem medalhas. E a ausência de pódios agora também não significa que a campanha na Rio-2016 será um desastre completo. Mas estará muito longe de ser um sucesso.

A equipe fez o que se esperava dela. Os atletas apenas repetiram o que vinham mostrando na temporada. O Brasil chegou à Rússia com seis nomes entre os dez primeiros do ranking -o decatleta Carlos Chinin, terceiro, era o melhor colocado. Mas nenhum deles conseguiu melhorar seu desempenho.

Fabiana Murer não tinha condições de defender seu título do salto com vara, já que há dois anos não salta mais de 4,80 m --salto de ouro mediu 4,89 m.

Se tivesse feito seu melhor resultado, Duda teria sido prata no salto em distância. Ficou a três centímetros do bronze.

A final do revezamento 4 x 400 m e Anderson Henriques, 21, nos 400 m rasos, foram boas novidades. Mas paramos aí.

A medalha "perdida" na queda do bastão do revezamento 4 x 100 m rasos feminino talvez seja o retrato do que o atletismo nacional tem enfrentado. Cria bons jovens atletas, que se destacam em suas provas no país mas falham na hora de dar o salto de qualidade nos grandes eventos.

A delegação fez em Moscou as mesmas seis finais do Mundial de Daegu, além de ter ficado entre os dez primeiros no decatlo e na maratona. Não evoluiu dois anos, uma Olimpíada e muitos milhões depois. E em 2011, Fabiana Murer ainda levou o ouro.

O atletismo brasileiro chega ao ciclo dos Jogos do Rio mais rico do que nunca. Os Correios renovaram patrocínio até 2016. Serão cerca de R$ 90 milhões a mais para a confederação, que já recebe o teto da verba da lei Piva de R$ 3,2 milhões.

Mas a modalidade paga o preço de não ter conseguido formar uma base ampla e sólida de praticantes da modalidade no país e de não ter selecionado um leque maior de talentos a serem lapidados nos 25 anos que Roberto Gesta de Melo ficou à frente da confederação.

Para a Olimpíada, não há tempo para criar novos atletas. A equipe de 2016 já está nas pistas e nos campos pelo Brasil e só sairá de lá para finais e pódios no Rio se for feito um trabalho sério de distribuição de recursos, modernização de métodos e ampliação de esforços. Mas serão poucos.


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