Folha de S. Paulo


Versátil, americano quer cruzar canal e se tornar herói dos gordos

Kelly Gneiting é gordo. Muito gordo. E não está nem aí para quem acha que barrigudões não podem praticar esportes. Em maio, completou sua terceira maratona --está no Livro dos Recordes como o ser humano mais pesado a correr prova do gênero.

Em junho, sagrou-se pentacampeão de sumô dos EUA.

E agora sonha em cruzar o canal da Mancha. A organização da travessia, porém, recusou a inscrição de Gneiting, que se autodenomina Homem de Gordura de Aço.

Andrew Loos - 20.mar.2011/Attackmarketing.com
Kelly Gneiting corre a maratona de Los Angeles, na Califórnia (EUA)
Kelly Gneiting corre a maratona de Los Angeles, na Califórnia (EUA)

"O fato de se ter 192 quilos cria um problema de segurança", diz a mensagem que recebeu da entidade. O texto afirma que não haveria condições de içá-lo da água caso fosse necessário durante o percurso de cerca de 32 quilômetros no canal que separa a Inglaterra da França.

"Os desafios tornam minhas conquistas mais significativas", disse Gneiting à Folha em entrevista por e-mail. "Quando alguém me diz que eu não tenho condições, a glória é maior quando eu consigo realizá-las."

Com essa inspiração, o lutador e maratonista de 1,83 m de altura e mais de um metro e meio de cintura tenta provar que é capaz de nadar por horas a fio, enfrentando a força das ondas e sal nos olhos. Partindo da costa da Califórnia quer chegar à cidade de Oxnard. São cerca de 21 quilômetros, e a travessia deve levar mais de 15 horas.

A tentativa seria hoje, mas problemas de logística de última hora adiaram a travessia para setembro.

"Um bote vai me acompanhar o tempo todo, e meus amigos do sumô vão me ajudar dando água e comida", disse ele, que vai desafiar o mar pela primeira vez. Até agora, sua preparação vem sendo feita em um lago. E o percurso mais longo foi de pouco mais de 14 quilômetros, em treino de 12 horas.

"Estou praticamente morto", escreveu ele em uma rede social depois daquele "longão". O que não é surpresa para alguém relativamente novo na natação: foi em setembro passado que Gneiting se candidatou ao canal da Mancha. Desde então, faz de quatro a sete horas de natação, a cada duas semanas.

É uma carga extra na sua rotina de treinos: "Faço exercícios de cinco a seis vezes por semana, pelo menos uma hora de cada vez". São caminhadas, trotes e preparação para lutas de sumô, encaixadas entre horas de trabalho.

"É muito difícil treinar e competir ao mesmo tempo em que você precisa trabalhar", diz Gneiting, que é casado e tem cinco filhos. Aos 43 anos, o atleta não tem patrocínio: sua renda vem do salário de estatístico no Fort Defiance Indian Hospital, que fica em uma reserva dos índios navajo no Arizona.

Isso pode mudar após a aventura de hoje: "Se completar a travessia do canal de Anacapa, provavelmente arranje patrocinador para fazer o canal da Mancha", diz ele, que conta com possível contrato com um reality show.

Se vier, será mais uma conquista da filosofia de vida de Kelly Gneiting: "Focar na sua força é muito melhor do que ficar criticando suas fraquezas. Espero ser uma espécie de 'campeão' para os gordos --pessoas com talento e habilidades, que têm muito a oferecer apesar de terem excesso de peso".


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