Folha de S. Paulo


Sem experiência no esqui, ginastas tentam superar medo por vaga olímpica na neve

Uma pirueta, duas piruetas. Há nove anos, em Atenas, Lais Souza realizava acrobacias em sua primeira Olimpíada. Voltou a solos, traves e barras em Pequim-2008.

Quatro cambalhotas, cinco cambalhotas, dezenas de lesões e, anteontem, a ginasta de 24 anos embarcou para o sonho de disputar a terceira Olimpíada.

Ao seu lado, no avião rumo ao Canadá, a ginasta Josi Santos, 28. Graças às mesmas acrobacias, daqui a sete meses elas querem aterrissar na neve de Sochi, na Rússia, como as primeiras brasileiras a disputarem a prova de esqui aéreo nos Jogos de Inverno.

"Dá um nervosismo. Nunca esquiei e creio que é perigoso. Está dando muito medo", afirma Lais.

Neste ano, ela já havia decidido não competir mais pelo Clube Pinheiros e não voltar à seleção brasileira de ginástica da qual foi cortada de Londres-2012, por lesão. No começo de 2013 passou pela 12ª cirurgia na carreira.

"[O maior desafio] para mim, é o frio. Para a Lais, é o medo, mas tudo se supera. Sabemos a tensão do esporte, mas ela tem o mesmo objetivo que eu e, juntas, faremos esse esporte se expandir", diz Josi, que já representou o Brasil em torneios internacionais e também deixou a ginástica devido às lesões.

Ambas foram convidadas para participar de uma seletiva, na pista artificial de esqui em São Roque, a 60 km de São Paulo, em maio.

Foi a primeira vez que esquiaram. Lais teve contato com esqui e neve no Chile como turista. Josi conheceu a modalidade em vídeo na web.

O teste principal, entretanto, foi feito em uma cama elástica.

"Achei bacana mudar de esporte, foi uma surpresa e me deu uma motivação nova", diz Lais, que pediu que fosse acompanhada por uma fisioterapeuta fora do país, além de exigir contratualmente seguro de saúde e de vida.

Veja vídeo

Assista ao vídeo em tablets e celulares

O receio pode ser explicado pelo fato de que os mortais, giros e piruetas que as duas ginastas costumam dar em treinos e competições acontecem a cerca de dois metros do solo. No esqui aéreo, um salto pode alcançar mais de seis metros da neve.

"Por que eu teria medo em esquiar? Por causa da altura? Por causa das acrobacias? Acredito que o novo e o limite são obstáculos a serem superados, e não o medo", responde Josi.

A seleção foi feita em teste na cama elástica, pelo canadense Ryan Snow, técnico que treinou medalhistas olímpicas. Ele é contratado da Confederação Brasileira de Desportos na Neve (CBDN), que tem recursos do Ministério do Esporte (R$ 982 mil) e da Lei Piva (R$ 1,5 milhão), via Comitê Olímpico Brasileiro.

"A transição de ginastas para o 'aerials' já teve sucesso na Austrália e nos Estados Unidos. O que mais influencia na nota é a acrobacia. A técnica no ar é mais determinante do que a técnica no esqui. É possível elas irem a Sochi, mas o projeto é a médio prazo, para 2018 e 2022", diz o superintendente da CBDN, Pedro Cavazzoni.

O Brasil projeta ter entre cinco e nove atletas, em seis ou sete modalidade, nos Jogos Olímpicos de Sochi, de 7 a 23 de fevereiro próximo.

São 25 vagas para os Jogos de 2014 na modalidade esqui aéreo, na qual o atleta desce um pista na neve, é lançado para o ar por uma rampa, faz acrobacias e aterrissa.

O treinamento de 50 dias em Whistler, no Canadá, será realizado com a queda em piscina ou colchão de ar.

As chances de classificação olímpica serão em cinco etapas da Copa do Mundo, de dezembro a janeiro.

Até lá, mesmo com frio na barriga, Lais e Josi vão precisar de superpiruetas e hipercambalhotas. Bravo, bravo!

Editoria de Arte/Folhapress

Endereço da página:

Links no texto: