Folha de S. Paulo


Nova geração pode vencer sem doping, diz único ciclista brasileiro na Volta da França

A insinuação feita pelo ex-ciclista Lance Armstrong na semana passada, de que para vencer a Volta da França é preciso se dopar, é "hipócrita" e mostra o caráter do americano.

A opinião é do catarinense Murilo Fischer, 34, único brasileiro na disputa da atual edição da Volta da França, a primeira após a divulgação do dossiê que apontou Armstrong como líder de um esquema de doping entre 1998 e 2005 e que culminou em seu banimento do esporte.

Atleta da equipe francesa FDJ.fr, Fischer afirmou que a reação dos atletas na competição mais importante do ciclismo às declarações de Armstrong ao jornal francês "Le Monde" foi de desprezo e de que a atual geração pode ganhar sem ilicitude.

"A opinião geral é de que enquanto era cômodo para Armstrong, estava tudo certo. Caras como ele devem ser banidos, esquecidos", disse.

Segundo o brasileiro, o clima entre os participantes não foi afetado devido ao escândalo que resultou na cassação dos sete troféus do americano no Tour da França.

"Quando o caso estourou, fiquei meio abismado, mas não me afetou. Todos da minha equipe e outros participantes já me disseram que não pertencem a esse ciclismo de que o Armstrong fala."

O catarinense também acredita que o público superou a polêmica e apoia os ciclistas, apesar das desconfianças. "O público continua incrível. Temos recebido apoio nas ruas. Acho que, para as pessoas, aquele problema todo passou", declarou.

MAIS CONTROLE

Divulgação
 Murilo Fischer posa para foto
Murilo Fischer posa para foto

Para Fischer, embora ainda não seja o ideal, há mais rigor nos controles antidoping. O brasileiro elenca a introdução do passaporte biológico como um dos trunfos do ciclismo.

O passaporte biológico é um documento individual que lista dados de sangue e urina do atleta para ser comparado com exames antidopings no futuro. Caso haja discrepâncias, pode configurar resultado positivo.

Nesta atual edição da Volta da França, Fischer disse ter passado por diversos testes, mas negou que tenha havido aumento no número deles devido ao caso Armstrong.

"Hoje o ciclismo é um esporte mais controlado e o que luta mais contra o doping. Isso não ocorria na época do Lance. Mas hoje há essa necessidade", afirmou.

Veterano de outras edições da Volta, Fischer não tem se destacado no pelotão.

Ontem, após a quinta etapa, era apenas o 151º colocado --a liderança estava com o australiano Simon Gerrans.

Contratado no ano passado pela FDJ.fr, ele tem a missão de ajudar o líder da equipe, o francês Thibaut Pinot.

"Fui escalado no Tour para eu trabalhar pelo time, e não para eu ganhar etapa."

O brasileiro tem como maior título até hoje o UCI Europe Tour, circuito organizado pela União Ciclística Internacional, em 2005.


Endereço da página:

Links no texto: