Folha de S. Paulo


'Carrasco' de Lance Armstrong diz que Brasil precisa de política antidoping séria

O Brasil tem, desde março, um aliado importante na luta contra o doping.

O americano Travis Tygart, que é o responsável pela revelação do maior esquema de dopagem da história do esporte: o caso que envolveu o ciclista americano Lance Armstrong.

Tygart, em nome da Usada (agência americana antidoping), dará suporte e treinamento à sua equivalente brasileira, a ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem).

Em fase de estruturação, a ABCD se valerá dos ensinamentos dos americanos para se preparar para a Copa-2014 e a Olimpíada-2016.

Em entrevista à Folha, Tygart detalhou a parceria com o Brasil e revelou que já se frustrou com a falta de atitude do país na área.

John Thys - 17.mai.2013/AFP
Travis Tygart fala durante entrevista
Travis Tygart fala durante entrevista

A Usada agora tem parceria com a ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem), que está em processo de estruturação. Como está sendo a cooperação?
Travis Tygart - Estamos esperançosos de que pode ser bem-sucedida. Demorou muito tempo para haver uma agência no Brasil, mas confiamos em Marco [Aurelio Klein, diretor executivo da ABCD], no governo e no suporte para que se faça uma política antidoping séria. Com a realização de megaeventos esportivos no país, é importante passar uma posição sólida no combate ao doping.

A Usada vai atuar como consultora da ABCD, então?
Não teremos qualquer autoridade. Mas estamos preparados para ajudar da melhor maneira possível. Vamos mandar um time da Usada para ajudar com procedimentos, protocolos e treinamento nas áreas de necessidade. Também faremos briefings com advogados e pessoal do departamento jurídico. Queremos também trazer a equipe da ABCD para Colorado Springs, onde fica nossa sede.

Como avalia o fato de o Brasil nunca ter tido agência antidoping até a criação da ABCD, em 2011?
Ficamos frustrados com o Brasil no passado. Mas agora achamos que a hora chegou de reagir. Estamos esperançosos de que dará certo. O passado é o passado.

Frustrados com o quê?
Com a falta de habilidade de se fazer testes confiáveis. Também escutávamos relatos de que não havia uma agência independente. Mas, como disse, isso foi no passado, estamos confiantes agora.

A Usada existe há quase 13 anos. O quão ruim era o Brasil não ter uma agência antidoping?
Era ruim, e não só porque uma agência era necessária para os atletas brasileiros, mas também para os atletas do mundo todo que virão ao Brasil nestes próximos anos. Os estrangeiros vão querer que haja um controle decente, que garanta justiça durante as competições como a Copa de 2014 a Olimpíada de 2016.

Você acha que o Brasil tem condição de fazer um bom controle antidoping na Olimpíada de 2016?
Depois de uma interação inicial com Marco e a ABCD, vi que há vontade de fazer bem feito. Vai ser difícil, mas há como fazer.


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