Folha de S. Paulo


F-1 é dura e a pressão vem de todos os lados, diz mexicano da McLaren

No paddock da F-1 muitos dizem que é arrogância. Mas Sergio Perez garante que seu jeito sério e quase distante ao dar entrevistas é apenas um reflexo da pressão com que tem que lidar diariamente.

Revelado na Sauber em 2011 e membro do programa de desenvolvimento de pilotos da Ferrari,o mexicano de 23 anos entrou para um grupo seleto da categoria ao assumir a vaga de Lewis Hamilton na McLaren neste ano.

Depois de um fraco início de campeonato, Perez foi um dos destaques do GP de Mônaco, há duas semanas, por suas ultrapassagens ousadas e outras polêmicas, como a que estragou a corrida de Kimi Raikkonen e fez o finlandês dizer que alguém tinha que lhe dar um soco na cara.

As críticas, assegura, não incomodam. "A F-1 é dura e a pressão vem de todos os lados", disse à Folha o mexicano, que hoje, às 15h (de Brasília, com transmissão da Globo), largará na 12º posição no grid do GP do Canadá, sétima etapa do Mundial.

Rogerio Barbosa/AFP
Sergio Perez durante treino classificatório em Montréal
Sergio Perez durante treino classificatório em Montréal

Folha - Acha que F-1 é mais difícil para um piloto latino?
Sergio Perez - Provavelmente sim, especialmente porque estamos mais longe de casa. Para um europeu, se acontece alguma coisa, ele sabe que sua família está por perto. Para nós, eles quase sempre estão longe e os sacrifícios que temos que fazer são maiores.

A McLaren parece ser um ambiente um pouco hostil para os latinos. Juan Pablo Montoya e Fernando Alonso não se deram muito bem...
Vendo de fora pode até parecer, mas estou muito feliz como me tratam e como lidam com as coisas. Acho que com os outros foram circunstâncias e depois de algum tempo é normal a relação se desgastar. Infelizmente neste ano não temos um carro bom, mas do lado pessoal estou feliz com a equipe.

Stan Honda/AFP
Sergio Perez anda no Circuito Gilles Villeneuve
Sergio Perez anda no Circuito Gilles Villeneuve

A fase da equipe não é boa, acha que logo vão se concentrar no carro de 2014?
Em algum momento vamos ter que tomar esta decisão e acho que não vai demorar muito, por isso temos de tentar um bom resultado logo. Somos realistas e estamos numa situação complicada e o pior que podemos fazer é ficar sonhando. O importante é ter os pés no chão e parar no momento que tivermos e nos concentrarmos no futuro. Sabemos que não seremos campeões neste ano e como nosso objetivo sempre é este, em algum momento vamos tomar a decisão de nos focarmos por completo no ano que vem. É uma decisão dura, mas a F-1 é dura.

Como foi a mudança da Sauber para a McLaren? Mais difícil do que pensava?
São muitas coisas, é um processo. Precisei de um tempo de adaptação, foram muitos meses e um processo intenso, então agora já me parece normal. Seguramente sou melhor piloto hoje do que há seis meses. O nível de detalhamento com que se trabalha na McLaren é enorme.

E a pressão?
Em todos os lugares ela existe. Se você está num time menor, como a Sauber, ela existe pois você tem que provar que é bom e sair logo dali. Se está em um time grande, a pressão é por vitórias, por isso acho que sempre há pressão.

Mas a exposição é muito maior num time grande...
Sim, mas ainda não estive do outro lado [vencendo] para saber e como não temos um carro tão competitivo no começo fui muito criticado e não entendia o porquê. Mesmo quando chegava bem perto de Jenson [Button, seu companheiro de time], me criticavam, mas é parte de estar na McLaren.

Sem lutar por vitórias, seu objetivo para este ano é ficar o mais perto possível dele?
Sem dúvida. Não posso ter outro objetivo senão este, pois sua maior referência sempre é seu companheiro de equipe. Seria muito bom ganhar dele porque Jenson é um campeão do mundo e se conseguir isso terei feito uma excelente temporada.

CJ Gunther - 07.jun.2013/Efe
Perez, durante treino livre
Perez, durante treino livre

E como é sua relação com ele?
Boa, ele tem muita experiência, é muito maduro e também muito competitivo.

O que tem a McLaren de diferente dos outros times?
Tenho pouca referência, um pouco da Ferrari e um pouco da Sauber. Mas acho que o mais importante é o nível de detalhe com que se trabalha e isso ajuda muito ao piloto e te faz mais completo. Quando cheguei, tive uma preparação completa, que foi desde entender o carro no simulador, ao preparo físico e como me comunicar com a equipe. Nunca pensei que uma equipe de F-1 pudesse ser assim, é incrível, e me surpreendi quando fui à fábrica pela primeira vez. De fora pode até parecer um time frio, mas dentro é uma equipe que está aqui para ganhar e fazer o melhor possível.

Martin Whitmarsh, chefe da McLaren, disse que você é muito diferente hoje do que quando o conheceu...
A equipe me ajudou muito a mudar não só como piloto, mas como pessoa. Quando se chega à F-1, existe muita pressão, você tem que surpreender porque se algumas passam corridas e ninguém te nota, em um ou dois anos você está fora. Essa é a pressão que existe quando você chega e tudo é novo, o que faz com que você acabe perdendo muito de sua vida pessoal e para alguns pode parecer que você mudou, mas é apenas uma maneira de lidar com tudo isso.

Foi uma decisão difícil fechar com a McLaren?
Sim, mas com a Ferrari eu sabia que não teria como correr neste ano, o plano era para o ano que vem. Por isso estou contente de ter surgido a oportunidade aqui.

Você disse que a F-1 é dura, é possível ter amigos?
Sim, tenho bons amigos e seguramente no dia que parar de correr terei mais amigos na Sauber e na McLaren.

Que tal a relação com a imprensa britânica?
Estava acostumado com a imprensa mexicana, que a cada pódio tratava como se fosse uma vitória. Agora na Inglaterra exigem muito mais porque estou numa equipe top. Meu melhor resultado neste ano foi um sexto lugar e o melhor da equipe foi um quinto, então eles têm sido duros pois estão acostumados a ser ganhadores, eu entendo. Foram duros no começo do ano, mas faz parte.

Há muita diferença do que se sabe entre pilotos e engenheiros e o que ficamos sabendo?
Sim, uma diferença enorme. Primeiro porque a imprensa inventa muita coisa e segundo porque nós pilotos falamos uma coisa dentro e outra fora. Sempre é difícil saber a verdade e será sempre assim a F-1.

E se sente bem com isso?
Sim, pois sei qual é minha verdade e cada um tem a sua.

Como se sente fazendo parte da equipe em que seu ídolo, Ayrton Senna, conquistou seus títulos?
É incrível. Ele é um símbolo na McLaren e se sente muito a sua presença na equipe. Quando vou a Woking sempre vejo referências a ele e isso me deixa feliz.


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