Folha de S. Paulo


Biografia exalta Djokovic, dos treinos sob bombardeio na Sérvia ao Guga no vídeo game

O atual número um do tênis mundial poderia ser brasileiro.

Apaixonado por futebol, carismático, engraçado, batalhador, sem as condições ideais para se desenvolver em seu país, vindo de uma família que se sacrificou pelo sonho e talento do filho mais velho de três irmãos.

Enfim, um estereótipo que seria o de Gustavo Kuerten se não fosse parte da história contada em "A Biografia de Novak Djokovic", a ser lançada na próxima sexta-feira (24).

Divulgação
Capa de
Capa de "A Biografia de Novak Djokovic", de Blaza Popovic, ed. Évora, R$ 59,90, 588 págs.

O que difere o tenista sérvio que completa 26 anos na próxima quarta-feira é justamente seu local de nascimento e a marca que a extinta Iugoslávia deixou nele.

"Um país muito específico (...) Para o Ocidente, a República Socialista Federativa da Iugoslávia (...) era o Oriente e vice-versa. Os Balcãs realmente unem muita coisa: a Europa com a Ásia, o Ocidente com o Oriente, o islã com o cristianismo", escreve logo no início da obra o autor Blaza Popovic, jornalista nascido em Belgrado, como Djokovic, mas 16 anos antes.

O livro de 588 páginas foi encomendado pela editora brasileira Évora, que vai lançá-lo pelo selo Generale, como fez com as biografias de Roger Federer e Lionel Messi.

A Folha teve acesso com exclusividade à edição inaugural da primeira biografia de Djokovic, resultado de dezenas de entrevistas com familiares, tenistas, treinadores e dedicação do autor seguindo ao redor do mundo quem ele chama de "ás da Sérvia".

Contado em ordem cronológica, o livro mostra como o filho de donos de um restaurante em uma estação de esqui cresceu em meio a guerras civis, hiperinflação, crise econômica e bombardeios da Otan (Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) que acabaram separando em diversas partes o país no qual nasceu.

Este, aliás, o grande mérito da obra: contar os detalhes da formação de Nole, apelido que Djokovic carrega desde a infância.

Popovic mostra o talento precoce da criança que defendeu a camisa do Partizan, clube rival ao que torcia no futebol, o Estrela Vervelha; o carisma do adolescente que já imitava colegas tenistas como hoje faz com Rafael Nadal ou Maria Sharapova; e a dedicação em meio às dificuldades de treinamentos em Belgrado ou em Kopaonik, montanha conhecida como o "pulmão da Sérvia", onde os pais se conheceram em uma temporada de esqui.

"Não existia a mínima chance de ficarmos em casa, sentados, chorando", diz Dijana, mãe de Djokovic, na obra. "Ficávamos na quadra de tênis das dez da manhã até a hora do crepúsculo. Nossos filhos treinavam durante o bombardeio. Treinando e ouvindo as sirenes".

Estes primeiros anos formaram o sentimento nacionalista que Djokovic leva à quadra quando defende seu país, desde os tempos em que ainda se chamava Iugoslávia aos atuais, quando conquistou a Copa Davis em 2010 e o bronze olímpico em Pequim-2008, já como Sérvia.

Além do patriotismo, o melhor tenista da atualidade também desenvolveu um caráter elogiado, como destaca Guga na biografia.

"Novak e eu temos características e natureza semelhantes. Gostamos de curtir a vida da mesma maneira. Tenho de salientar que existe algo que liga os dois países de onde viemos. As pessoas no Brasil e na Sérvia compreendem as coisas de maneira seria, mas também gostam de rir, e relaxar dessa seriedade", diz o brasileiro ex-número um do mundo.

Guga era o jogador que Djokovic escolhia quando brincava de tênis no vídeo game. Popovic conta no livro que até mesmo os gritos do brasileiro o tenista sérvio imitava conforme o jogo se desenvolvia na tela.

Assim, entre elogios à inteligência e à postura de Djokovic dentro e fora das quadras, o livro se desenrola --às vezes até enrola-- na trajetória de sucesso do sérvio. Torneio a torneio, título a título, na conquista de seis Grand Slams, mostra as reações após derrotas e vitórias até o apogeu ao conquistar Wimbledon em 2011 e se transformar no número um, seus dois grandes sonhos.

"A única coisa boa durante os bombardeios era que ia menos a escola, e sobrava mais tempo para jogar tênis. Estava com fome de sucessos. Eu sou o melhor exemplo de que nada e impossível. Quando era criança e dizia que meu maior desejo era tornar-me o melhor tenista do mundo, a maioria das pessoas ria, pensando que eu não tinha nem 1% de chance, mas, apesar de tudo, consegui!".

Djokovic é sérvio, e pode dizer que não desiste nunca.

Editora Évora/Divulgação
O tenista Novak Djokovic, em 2001, com a camisa do clube Partizan, de Belgrado, na Sérvia
O tenista Novak Djokovic, em 2001, com a camisa do clube Partizan, de Belgrado, na Sérvia

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