Folha de S. Paulo


Matemático cria site de vaquinha para atletas em crise e ajuda musa do taekwondo

Carlos Luciano já ganhou etapas regionais e sub-23 do circuito brasileiro, treinou com os medalhistas olímpicos Alison e Emanuel e é considerado uma das boas revelações do vôlei de praia no país. Aos 23 anos, porém, o atleta fluminense já admite abandonar o esporte. O que pode fazê-lo seguir, ao menos neste momento, são R$ 800.

"Cheguei no limite. Passei um mês sem fazer nada, tive várias crises. Bate um desânimo ficar sem patrocínio, sem investidor. Você fica com o chinelo na mão", diz o jogador, 20º do ranking nacional, à Folha.

Divulgação/CBV
Carlos Luciano em ação no circuito de vôlei de praia
Carlos Luciano passa em jogo do circuito de vôlei de praia

Há quatro anos no circuito, mais do que títulos ele acumulou despesas. De Nova Iguaçu ia para a zona sul do Rio todo dia. Pagava treinador e local para treinar nas famosas areias cariocas. Mas o dinheiro acabou. Então ele foi pesquisar na internet um meio de conseguir apoio e descobriu o recém-criado Pódio Brasil.

O site com o projeto de financiamento coletivo ("crowdfunding", em inglês) de atletas encontrado pelo jogador de vôlei de praia foi criado pelo matemático santista Nélio Costa.

A "start-up" (empresa iniciante de base tecnológica) Pódio Brasil começou a funcionar no início de abril e vai ajudar Carlos Luciano a arrecadar, por meio de doações, os R$ 800 que precisa para disputar etapas do circuito nacional de vôlei de praia.

"Ele [Carlos Luciano] é exatamente o tipo de atleta que eu tinha em mente quando idealizei a Pódio", afirma Costa, que rejeita o rótulo de patrocinador.

"Não está nascendo um mecenas. Só estamos facilitando o trabalho de quem quer ajudar. O mérito é de quem contribui", completa o diretor-executivo que deixou seu emprego em um restaurante para se dedicar exclusivamente à empresa.

COMO FUNCIONA

O site Pódio Brasil organiza uma espécie de vaquinha. Estabelece-se uma meta em dinheiro de acordo com a necessidade imediata do atleta. Qualquer pessoa pode doar uma determinada quantia, e cada cota dá direito a um prêmio --de brindes a aulas e equipamentos da modalidade. O arrecadado é repassado ao atleta, e 6% ficam com os donos do site. Se a meta não for atingida, o dinheiro é devolvido aos doadores.

Nélio Costa e Diogo Veiga --este especialista em marketing esportivo e sócio responsável pela divulgação -- investiram inicialmente mais de R$ 6 mil no projeto. O matemático, inclusive, está vendendo o carro para bancar as próximas etapas.

A primeira atleta financiada foi Talisca Reis, 24, da seleção brasileira de taekwondo. Para competir no Aberto do Canadá, entre 2 e 5 de maio, a 19ª colocada do ranking mundial (categoria até 53 kg) precisava de R$ 4 mil para passagens e hospedagem.

Agenciada por Veiga, que bancou a produção de um ensaio fotográfico para promovê-la como musa da modalidade, Talisca recebe salário da Marinha, do São Caetano e tem apoio de projeto da Petrobrás.

Mesmo assim, a lutadora nascida em Porto Velho (RO) e, hoje, moradora de Londrina (PR) diz que não teria condições de competir no Canadá, pois não há verba da Confederação Brasileira de Taekwondo destinada para esta competição.

"Preciso pontuar no ranking e este ano só disputei o Aberto dos Estados Unidos. A meta é estar entre as cinco no Mundial, em julho, no México. E, depois, o objetivo maior é ser medalhista no Rio em 2016", diz a atleta que também sonha ser modelo.

"Está mais difícil [ajudar os atletas] do que eu esperava. Mas gosto muito de esporte e sei que o Brasil não está trabalhando o seu total potencial. Se tem como ser feito, temos que fazer", conclui Nélio Costa, que já possui outros quatros atletas esperando para entrar no projeto.

Reprodução
Reprodução da página de Talisca Reis no Pódio Brasil
Reprodução da página de Talisca Reis no Pódio Brasil

AMIZADE

A esgrimista Élora Pattaro, 27, conseguiu R$ 8.924 no "crowdfunding" organizado por uma amiga, no site "Vakinha".

As doações foram encerradas na semana passada após um mês de arrecadação. O objetivo era arrecadar R$ 5 mil para a atleta brasileira treinar por um mês em uma academia de Nova York, antes da disputa do Pan-Americano, em junho, na Colômbia.

O financiamento coletivo deu certo, e Élora conseguiu quase o dobro do que precisava.

Com o valor extra, a esgrimista vice-campeã Mundial cadete em 2003, aos 17 anos, foi disputar a Copa do Mundo de sabre (de 2 a 5 de maio), em Chicago, bancando as próprias despesas.

"Fiquei muito feliz que vou conseguir pagar tudo", afirma.


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