Folha de S. Paulo


Domínio alemão pode definir primeiro fracasso de Mourinho

José Mourinho não mediu sua ambição ao desembarcar em Madri, em junho de 2010, para dirigir o Real Madrid: "Em outros clubes, ganhei títulos e deixei meu selo. Quero fazer o mesmo aqui. Quero ser o primeiro a ganhar por três vezes a Champions League." A frase não foi dita em seu discurso de posse, mas está escrita no prefácio do livro "Bíblia do Real Madrid", de Luis Miguel Pereira, assinado por José Mourinho.

Perder, empatar ou até mesmo ganhar hoje por menos de três gols de diferença (na ida o clube alemão ganhou por 4 a 1), contra o Borussia Dortmund, pode definir que Mourinho não alcançará o que planejou na chegada.

"Quando um time vence, o sucesso é de todos. Quando perde, o fracasso é do treinador", disse o técnico português ontem. Não é oficial, mas é provável que sua passagem pelo Real termine em maio. Até agora, registrou três títulos -- um campeonato espanhol, uma Copa do Rei e uma Supercopa da Espanha. Na primeira entrevista após a chegada a Madri, pronunciou a palavra campeão sete vezes. Nos três anos seguintes, só conseguiu gritá-la em três oportunidades.

Susana Vera/Reuters
O técnico José Mourinho concede entrevista em Madri; Real precisa golear para ir à final
O técnico José Mourinho concede entrevista em Madri; Real precisa golear para ir à final

No Porto, Chelsea e Inter de Milão, as conquistas foram em número maior. Em um ano e meio no Porto, ganhou duas taças dentro do país e uma Copa dos Campeões. Três anos no Chelsea, dois títulos nacionais, três Copas e uma Supercopa. Na Inter, duas temporadas, dois títulos nacionais, uma Copa, duas Supercopas e a Champions.

Nesta temporada, são 54 partidas, dez perdidas. O número máximo de derrotas em um ano era oito, na Inter, em 2009. Nunca na história um clube - ou um técnico - foi eliminado em três semifinais consecutivas da Copa dos Campeões. Pode acontecer hoje com Mourinho e com o Real Madrid.

Ontem, o treinador português afirmou que seu time foi inocente no jogo de ida, em Dortmund: "Lewandowski marcou quatro gols e nós não fizemos nenhuma falta nele", reclamou. Também fez uma observação crítica sobre o vídeo gravado pelos jogadores na véspera. No vídeo, os atletas motivam a torcida afirmando que a força para vencer o Borussia deve vir da arquibancada. "Motivada, a torcida estaria se tivéssemos vencido em Dortmund."

Todos os depoimentos dão conta de que o relacionamento com boa parte dos jogadores é péssimo. Mourinho não brilha como no tempo em que chegou ao Chelsea e definiu a si mesmo como "um cara especial", origem do apelido The Special One. Em parte, a força alemã é responsável por isso.

Desde 2001, a Alemanha não conquista nenhum título continental, nem da Copa dos Campeões, nem da Liga Europa - ou Copa da Uefa. Nesse período, sete países levantaram troféus: Inglaterra, Espanha, Itália, Portugal, Holanda, Rússia e Ucrânia. Há um ano, questionado sobre a ausência de conquistas alemãs, o técnico do Bayern, Jupp Heynckes respondeu: "É porque gastamos apenas o que temos."

A Espanha segue gastando mais do que arrecada. Pode não ser suficiente.


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