Folha de S. Paulo


Desorganização extracampo e fator psicológico derrubam Haiti sub-17

A viagem que, num voo normal, levaria pouco mais de duas horas, se transformou numa saga de 48 horas e muita confusão.

A ida da seleção sub-17 masculina do Haiti ao Panamá foi cercada de problemas: atletas sem passaporte, sem visto e decisões equivocadas sobre o melhor caminho de ônibus até a República Dominicana, de onde partiria o voo.

Não bastasse isso, os uniformes estavam fora do padrão exigido pela Concacaf (Confederação de Futebol das Américas do Norte e Central e do Caribe) e três titulares foram impedidos de participar da competição por questões de organização e logística. O time que chegou ao Panamá era formado por apenas 17 jogadores.

Com tantos obstáculos, ficou evidente a dificuldade de os atletas encararem seus adversários, e os resultados foram ruins: derrota de 3 x 0 contra os EUA e de 3 x 1 contra a Guatemala, enterrando qualquer intenção de participar do Mundial da categoria em outubro nos Emirados Árabes Unidos.

Desfalcada do goleiro principal, além de um lateral esquerdo e um meia titulares, a equipe não conseguiu desenvolver um futebol convincente e abusou dos chutões criticados pelo técnico, o brasileiro Rafael Novaes Dias, da Academia Pérolas Negras.

Segundo Chery Pierre Steven, membro da diretoria técnica da Federação Haitiana de Futebol, e responsável pelas categorias de base, o desempenho esbarrou nos "detalhes": "Estávamos trabalhando muito bem. Às vezes, temos as partes física, tática e técnica em alto nível, mas qualquer detalhe pode abater o grupo. O fator psicológico é primordial."

Steven não foi até o Panamá. Ficou na República Dominicana com quatro meninos, pois, segundo a federação, não havia voos suficientes para todos.

Novaes, que acompanhou o time de perto, disse que, após a primeira partida, o clima entre os atletas era bom, mas não havia como ignorar o que haviam passado até chegar ao estádio. "Atribuímos as derrotas a uma série de fatores pequenos que, no final, fizeram toda a diferença", afirmou Novaes.

No Haiti, entre os jogadores que treinam com a mesma comissão técnica da sub-17, uma sequência de imagens resumiu a avaliação geral: ouvindo a partida contra a Guatemala pelo rádio do celular, houve gritaria dos garotos no único gol marcado pelo país na competição, seguida de ansiedade e tristeza silenciosa com a desclassificação.


Endereço da página: