Folha de S. Paulo


Vitória do Botafogo sobre o Vasco abre série de clássicos em Volta Redonda

Luzinete Nunes de Oliveira completa 70 anos nesta quinta-feira, mas ficou brava no fim da tarde da última quarta-feira. Depois de gastar R$ 20 num táxi para fazer um raio-x do tórax na Policlínica da Cidadania, foi informada de que todos os atendimentos estavam suspensos.

"É absurdo, ninguém avisa. Agora vou ter que voltar para tirar a chapa no dia do meu aniversário", disse, antes de ir embora, na chuva, caminhando entre operários da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) e torcedores vascaínos e botafoguenses.

Alexandre Durão/Folhapress
O goleiro Alessandro cai na área durante a derrota do Vasco para o Botafogo
O goleiro Alessandro cai na área durante a derrota do Vasco para o Botafogo

Não havia mesmo como tirar a chapa. A policlínica funciona no anel de acesso às arquibancadas do Raulino de Oliveira, o "estádio da Cidadania", em Volta Redonda. Com a reforma do Maracanã e a interdição do Engenhão, a arena se tornou a casa dos clássicos do futebol carioca.

A novidade foi inaugurada nesta quarta-feira --talvez daí a surpresa de dona Luzinete. Vasco x Botafogo, que deveria ter acontecido no domingo, foi remarcado para as 19h30 de uma quarta de muita chuva.

Será assim, até o Maracanã ou o Engenhão ser liberado: jogo importante, a 129 km da capital. É, afinal, o único estádio do Rio em que a PM dá garantias de segurança com duas torcidas grandes.

Nesta quarta-feira, a prudência soou até exagero. Já classificado para a decisão do Estadual, o Botafogo jogou sem sua grande estrela, Seedorf, suspenso. E o Vasco entrou em campo ostentando a oitava e última colocação no Grupo A.

Para piorar, um aguaceiro despencou sobre a cidade a partir do final da tarde. Resultado: num estádio com capacidade para 21 mil pessoas, público fraco, de 6.994.

Torcedores com cara diferente da daqueles da capital.

Pela Dutra, nada indicava que um clássico ocorreria. E, sim, havia faixas de torcidas organizadas, batuques e até uma bomba ou outra estourou antes da partida.

Mas o jogo tinha mais o jeitão de Alwex Lima Soares, 21, e Tainara Moreira da Cruz, 18. Os dois estudantes saíram de Porto Real, trocaram de ônibus em Barra Mansa, levaram três horas para vencer pouco mais de 50 km.

Um presente de Alex para Tainara: o primeiro jogo num estádio. "Se fosse no Rio, a gente não iria. É muito longe. Aqui dá. Como o Vasco não deve voltar pra cá nas semifinais, aproveitamos", disse o vascaíno, sorridente.

Sorriso só não maior do que o de Diego Fuede, 7. Como são as coisas: graças à interdição do Engenhão, por conta de riscos na cobertura do estádio, o garoto volta-redondense teve ontem a chance de entrar em campo segurando a mão de Dedé, zagueiro do Vasco e da seleção brasileira.

"Ele nem dormiu direito nessa noite", contou o pai de Diego, Jorge Fuede, 39. "Para a gente, o que está acontecendo com os estádios lá no Rio foi bom. Agora, vai ter muito jogo importante na nossa cidade."

Com o gramado bastante encharcado, mas já sem chuva caindo, os dois rivais da capital fizeram um jogo acirrado. Vitória por 3 a 0 do Botafogo, resultado que praticamente sepulta as chances do Vasco no campeonato.

Até o final do Estadual, Volta Redonda pode receber mais dez clássicos. O próximo acontece em dez dias. O maior de todos: o Fla-Flu.

Até lá, dona Luzinete talvez se acostume com o movimento diferente na cidade.


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